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domingo, 23 de novembro de 2014

Nos confins de uma gaveta esquecida


Na gaveta esquecida estavam cinco CDs, um moletom que não me serve mais, um par de luvas de gosto duvidoso, uma meia púrpura, dois óculos antigos que envergonhariam até a mais hipser das almas, um guarda-chuva quebrado, dez latinhas redondas (ainda no plástico), uma luminária japonesa comprada na Liberdade em 2008 (também ainda no plástico), um lenço xadrez usado para amarrar no pescoço em festas juninas (e só nelas, of course!), todos os recibos de pagamento do aluguel da garagem, uma revista, dois negativos e cerca de três reais em moedas espalhadas pelos cantos. 

E ainda me acham a pessoa mais organizada do mundo.

Imagem: Salvador Dalí

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Sussurro pela vida


Não há como falar da minha relação com a Casa da Juventude Pe. Burnier sem contar, primeiro, essa história: Lá pelos inícios da década de 90, às voltas com o grupo de jovens da minha pequena cidade natal, chegou às minhas mãos um livrinho míudo, em preto e branco, mas com jeitos e imagens que encantaram meus olhos. O encantamento com o material era tanto a ponto de querer saber de onde tinha saído aquela publicação que sabia falar a minha língua e me impelia, pelas vias da autonomia, a olhar minha própria história.

O tempo passou e em 1997 eu me mudei para Goiânia. Coincidentemente (ou nem tanto assim, vai saber, né?) eu passei a morar há exatas três quadras de onde se encontrava a Casa responsável pela produção daquele livrinho e pela formação de uma juventude inteira. Numa dessas vontades que a gente não explica, um dia eu fui visitar o lugar e de lá não saí mais. Foram cursos, tardes de formação, escolas, festas e toda sorte de acontecimentos.

Um desses acontecimentos foi o encontro com Walderes Brito que, na época, era responsável pela comunicação da Casa e com o Berg, designer do lugar e colega de faculdade, mesmo ele estando dois anos à frente de mim. Esses encontros me possibilitaram apresentar meus desenhos (tímidos e inseguros numa pasta catálogo) e a começar uma relação mais próxima com os trabalhos que a CAJU desenvolvia na época. Comecei fazendo ilustrações para o informativo e logo meus desenhos se espalharam para os cartazes, folderes e corredores do lugar.

Esse "namoro" durou um tempo e no dia 01 de Maio de 2005 fui contratado pela Casa da Juventude para fazer parte do Setor de Comunicação atuando como designer gráfico. De lá pra cá, a CAJU foi responsável em grande parte pela minha formação profissional, projetando meu trabalho para o Brasil e América Latina afora. De repente, eu era o responsável pelos desenhos e pelas formas das publicações que, como aquele livrinho lá na década de 90, rodavam o mundo encantando outros jovens.

Depois de nove anos, ontem fui oficialmente desligado do trabalho da CAJU. E é impossível deixar aquele lugar sem registrar aqui minha gratidão pelas possibilidades que o trabalho na Casa me apresentou. Muito mais do que fazer design para jovens, esse tempo foi um tempo de diálogo com os sonhos de juventudes tantas, onde o que eu desenhava era sempre colorido por outros sentidos e significados que deixavam meu trabalho muito, mas muito mais bonito. Meu agradecimento é sem fim...

Esse tempo também bordou minha existência com encontros e(ternos) e amizades sensíveis que valem por uma vida inteira. Na impossibilidade de nomear todos aqui, passo à lembrança, em especial, do Pe. Geraldo Nascimento, que no calor do seu abraço sabia abrir horizontes com generosidade e comprometimento. À Gardene Leão, pelos dias regados a muita cumplicidade, música e outras gostosuras que ainda dão água na boca só de lembrar. À Carmem Lucia pela inquietude, por sempre me desafiar a olhar a juventude de um outro lugar, estranho e inquieto, mas sem jamais perder a ternura. Ao Berg, companheiro de trabalho e amigo fiel que ainda me ensina como fazer e como não esmorecer. À Márcia, por plantar alegria onde eu só enxergava aridez e por fazer das últimas tardes - ao som de Fábio Jr. e outras tantas canções do Globo de Ouro - as mais bonitas de todas! Ao quadro de funcionários de antes e ao quadro de agora, mesmo sem os nomes marcados aqui, saibam que meu peito segue marcado, rabiscado e colorido por todos/as. Obrigado, muito obrigado!

Os últimos tempos na Casa me puseram à prova e atestaram, com veemência a efemeridade das coisas, mas não das relações. Esse período, embora menos desafiador em se tratando de trabalho, foi intenso naquilo que realmente importa: o entrelaçamento de forças e o ajuntamento de esperanças para olhar adiante que é o que eu faço agora. Meu olhar segue alternando entre o céu e aquilo que virá. A imagem que fica é a imagem daquela pipa, desenhada lá em 2005 e transformada até hoje por onde quer que ela voe. A juventude segue com seus gritos pela vida, eu de cá sigo sussurrando por ela também!

domingo, 16 de novembro de 2014

Precipícios particulares


Ultimamente, para dentro de mim mesmo eu pareço cair. Vivo trasbordamentos pelo avesso. Sabe espelhos por todos os lados? Pois é. Porque a verdade é que você sabe que está ali, olhando para aquele rosto e sabendo que é você mesmo, mas se enxergando de outro modo.

Um desdobrar-se. Por vezes, esgarçar-se. 
Certezas? Mexe. Mexe. Mexe.

Cabeça, olhos e dedos na lua desse infinito particular. Pés a flutuar em gravidade zero. A vontade é voltar para um lugar seguro, mas na volta dá pra se achar e se reconhecer? Como ser maleável consigo quando seu ombro tá doendo e você sabe que é o peso de suas escolhas?

Eu que já desejei exclamações, ando de namoro com interrogações pra ir pra cama com afirmações. Uma gramática da vida onde não é preciso falar nada, onde as aprovações alheias passem à margem desse silêncio bom que sempre me ajuda a encontrar o vento que me refrigera inteiro.

É possível ser feliz só desejando ventos?
É possível ser feliz só desejando?
É possível ser feliz só?
É possível ser feliz?
É possível?
É.

Foto: Wolney Fernandes

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Iniciantes - Do que falamos quando falamos de Raymond Carver


“Naquela manhã, ela derrama uísque Teacher’s em cima da minha barriga e lambe. De tarde, tenta se jogar pela janela.”

Talvez essa seja a frase que resuma com precisão as contradições (deliciosas, diga-se de passagem) que permeiam os contos de Raymond Carver no livro "Iniciantes". Quando falo em contradições procuro ressaltar que as histórias escritas pelo autor nos colocam sempre diante de personagens moldados por sentimentos antagônicos, por vezes duvidosos, mas nunca irreais.

Os dezessete contos que dão corpo a esta edição transitam por histórias de amor mal resolvidas, brigas entre casais, perdas, acertos de contas entre pais e filhos, entre esposas e maridos e amizades que surpreendem por seus contornos contrastantes. As relações desfiadas pelo autor estão sempre em mutação e, por isso, são muito palpáveis, muito parecidas com a vida real.

"A morte é lugar nenhum, Nancy. Pode escrever o que estou dizendo."

"Quer ver uma coisa?" foi um dos contos que conseguiu fazer com que eu olhasse pra mim mesmo em busca daquilo que, de certa forma, desconecta quem eu quis ser de quem eu sou e, pelas indagações da esposa que acorda no meio da noite para conversar com o vizinho pude enxergar minhas próprias limitações com muito mais clareza tamanha a inquietação que a história imprime.

"Não sei por quê, mas de repente me senti muito longe de todo mundo que eu tinha conhecido e amado quando era garota. Senti uma saudade das pessoas. Por um momento, fiquei lá parada e desejei poder voltar para aquela época. Então, quando pensei de novo, entendi com clareza que não podia fazer aquilo. Não, mas então me veio a cabeça que a minha vida não se parecia nem remotamente com a vida que eu achava que ia ter quando era jovem e vivia cheia de expectativas,"

"O lance" é uma conversa difícil entre pai e filho onde o pai deseja relatar ao filho o tal lance que mudou a vida de ambos e é escrita de forma tão incrível que não dá para tecer julgamentos diante de personagens tão complexos. Isso é uma característica marcante do autor que consegue, em poucas páginas, moldar e desenvolver personagens tão verossímeis.

Carver é dono de uma escrita crua, precisa, por vezes, dura e, em função disso, suas histórias não seguem uma estrutura convencional. Entramos por seus contos como se estivéssemos de passagem, em constante movimento. Passa-se pelos conflitos e pelas situações e é como se as histórias continuassem para além do nosso olhar de leitor. Por isso não há desfechos, mas portas de saída sem ápices ao final de cada uma delas.

O conto que dá título ao livro é quase todo construído por diálogos entre dois casais que, reunidos na casa de um deles discutem suas convicções acerca do que é o amor. O modo como Carver tece a escrita entre os diálogos e o que acontece entre eles é muito dinâmico, quase como se não se tratasse de ficção, mas de realidade.

O livro "Iniciantes" lançado pela Cia. das Letras em 2009 é a reunião dos contos em sua versão original, assim como o autor os escreveu e com diferenças bem marcantes da sua primeira publicação em 1981. Sob o belo título "Do que estamos falando quando falamos de amor" estes mesmos contos foram editados por Gordon Lish, editor de Carver na época do primeiro lançamento, que cortou quase 50% do conteúdo original. Polêmicas à parte, fica a certeza do talento de um escritor que eu nunca tinha ouvido falar, mas que já figura entre os melhores que eu já li nessa categoria.

Foto: Wolney Fernandes

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Em coro!


01. I Want You - Elvis Costello
02. I Want You - Beatles
03. I Want You - Kings of Leon
04. I Want You - Bob Dylan
05. I Want You - Cee Lo Green
06. I Want You - Plastic
07. I Want You - Martin Solveig
08. I Want You - Madonna ft. Massive Attack
09. I Want You - Tom Waits

A foto eu achei aqui.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

The Beatles Book Tag


Tomei fôlego, coloquei Beatles para tocar - Come Together - e resolvi responder a Beatles Book Tag criada pela Aline Aimée do blog e canal Little Doll House e pela Tatianne Dantas do País das Entrelinhas. A brincadeira consiste em atribuir algumas categorias literárias a músicas dos Beatles. Abaixo estão minhas escolhas. Para saber mais sobre os livros, basta clicar nos títulos, pois para alguns deles eu fiz textos mais detalhados aqui mesmo no blog.

Quem quiser responder também, sinta-se convidado(a)! 

01. Twist and Shout - um livro que sempre te deixa feliz.
Atlas - Jorge Luis Borges
Acompanhar Borges em suas andanças pelo mundo e o modo peculiar com o qual ele enxerga cada esquina ou situação parece desvelar dentro de mim um jeito novo de olhar pra mim mesmo. A cegueira que atravessou o caminho do autor à medida que envelhecia ajuda a compor, com outras sensibilidades, vários dos meus contentamentos. O livro é composto por pequenos textos elaborados pela experiência com a paisagem de vários lugares que o autor visitou.

02. All my loving - um livro com uma história romântica 
Rakushisha - Adriana Lisboa
"Rakushisha" opera pelas vias de um romance não convencional, pois o que se instaura no encontro entre Celina e Haruki é uma viagem interior que cada um faz em busca de si mesmos. Ao se conhecerem por acaso no metrô, uma ligação é estabelecida e os dois decidem se curvar a ela com todas as consequências que podem advir desse desejo que acaba levando o casal para uma viagem ao Japão. Delicado e muito preciso, tal como os haikais de Bashô que permeiam a narrativa, o livro é para mim, uma das histórias de amor mais bonitas que eu li esse ano.

03. Across the universe – um livro transcendente
Lavoura Arcaica - Raduan Nassar
Ler "Lavoura Arcaica" com certeza é uma experiência transcendente. O livro que conta a história de André, filho desgarrado da família regida pelos princípios do patriarcado, é narrado sob as tintas fortes das influências bíblicas. O texto de Raduan parece ter a estrutura de uma oração onde cada palavra compõe, com precisão e poesia, uma trama que faz arder o peito e arrepiar a pele.

04. Help! – um livro onde o protagonista sofra/coma o pão que o diabo amassou.
A Desumanização - Valter Hugo Mãe
A história da menina que perde a irmã gêmea e se vê perdida entre o julgo de pais desorientados e a ausência de sonhos próprios é, de longe, a mais triste que eu já li. Ambientado no interior da Islândia, a trama parece ser concebida se valendo das sensações de frio e de vazios tão característicos daquele lugar. Com uma escrita repleta de poesia, o escritor português consegue evidenciar cada etapa da vida de Halla pelas vias da tristeza, mas uma tristeza bonita, dessas que faz o peito apertar e o horizonte marejar.

05. Beatles For Sale – um best seller favorito
A Garota Exemplar - Gillian Flynn
Não sou muito de ler best-sellers, mas esse em especial chamou minha atenção por oferecer uma narrativa ágil e repleta de reviravoltas. Na história, um casal perfeito completa cinco anos de casados, mas a esposa desaparece na data. Narrada de vários pontos de vista, a trama se desenrola permeada por mistérios e até a metade do livro não se sabe as verdadeiras intenções dos personagens e isso deixa a leitura muito instigante. Surpreendentemente, depois das revelações típicas desse tipo de narrativa, quando eu pensei que o livro fosse ficar meio chato, eis que passou a me surpreender a cada página até seu desfecho permeado de inquietações.

06. Penny Lane - um livro que te lembre o lugar onde você nasceu
A Hora dos Ruminantes - José J. Veiga
José J. Veiga é um escritor goiano que sabe falar com o jeito de situações muito particulares de quem vive no Centro-Oeste do país. Tendo nascido no interior de Goiás, ao ler "A Hora dos Ruminantes" eu sempre retorno ao tempo vivenciado entre quintais, rios e morros. A história do livro gira em torno dos habitantes de uma pequena cidade que tem seu cotidiano alterado com a chegada de desconhecidos que acampam do outro lado do rio. Costurado com os fios da literatura fantástica, tão comum por estas bandas, a cada nova indagação que os moradores fazem acerca dos eventos ocorridos na pequena vila somos surpreendidos por respostas cada vez mais estranhas. Impossível não me lembrar do meu tempo de infância na minha cidade-natal onde histórias de assombração, de fantasia e mistério são muito comuns.

07. In my life – biografia ou memória favorita
O que amar quer dizer - Mathieu Lindon
Para esta categoria nada mais adequado do que o livro de memórias do francês Mathieu Lindon onde ele relembra o tempo passado junto com Michel Foucault na Paris dos anos 80. Um retrato sensível e sincero acerca de como as relações alteram nossa compreensão do mundo e nos moldam para o resto da vida. Dono de uma escrita sensível e muito concatenada, Lindon desfia suas memórias para tecê-las junto a descobertas que a juventude descortina. Sem dúvidas, uma das melhores leituras que eu já fiz.

08. Strawberry Fields Forever - um livro que te fez crescer de alguma forma
Tudo se Ilumina - Jonathan Safran Foer
"Tudo se Ilumina" é o livro da minha vida, uma vez que possibilitou com que eu olhasse para minhas próprias origens e quisesse escrutiná-las pelas vias afetivas. A história do neto que parte para a Ucrânia em busca da história do avô judeu que fugiu do nazismo é uma das mais bonitas do mundo. Narrado com brilhantismo e um tanto de humor (daquele mais refinado), o livro vai entrelaçar a história do próprio autor a de outras pessoas que ele encontra durante a viagem. Fugindo dos clichês do gênero (não há campo de concentração nem sentimentalismo exagerado - ufa!), Safran Foer consegue fazer com que passado e presente se alternem e se mesclem de forma fluida e cheia de boas surpresas. A cada iluminação, o autor nos apresenta a personagens fortes (o guia Alex, a mulher que coleciona poeira…) e estabelece metáforas inesquecíveis como a do rio por onde correm imagens de uma cidade inteira. De longe, uma leitura para a vida toda.

09. Revolver – livro policial favorito
Crônica de uma morte anunciada - Gabriel Garcia Marquez
De verdade eu também não sou leitor de histórias policiais. Na adolescência eu lia muito Agatha Christie, mas hoje em dia é raro me aventurar por livros do tipo. Ao encaixar "Crônica de uma morte anunciada" nesta categoria minha tentativa é realçar os contornos do gênero policial contidos na maneira (genial, diga-se de passagem) como o autor utiliza de vários pontos de vista para narrar um assassinato. Não há um mistério a ser decifrado uma vez que já sabemos, de início, quem é o autor do crime. No entanto, o modo como Gabriel Garcia Marquez entrelaça os fatos e vai revelando, aos poucos, toda a rede tecida em torno dos motivos dessa morte nos deixa muito curiosos para saber o "como" tudo aconteceu. 

10. Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band – livro fantástico favorito
Sonhos de Einstein - Alan Lightman
"Sonhos de Einstein" é um livro fantástico na medida que nos apresenta pequenos sonhos que Einstein teria tido durante o período em que desenvolveu a teoria da relatividade. Cada capítulo mostra o funcionamento dessas noções de tempo diferenciadas em histórias diversas que desencadeiam modos de relacionar passado, presente e futuro. Um belo modo de reordenação da noção de tempo e um jeito gostoso de atribuir outros sentidos aos movimentos que fazemos cotidianamente.

11. Magical Mistery Tour – um livro que contenha um universo mágico, fantasioso, surreal.
O Perfume - Patrick Suskind
Só mesmo suspendendo a realidade para adentrar no universo surreal das peripécias de Jean-Baptiste Grenouille, um perfumista nascido na fétida Paris do século XVI, às voltas com o desejo sem limites de conseguir o aroma perfeito. Mesmo partindo de um cenário histórico, à medida que a trama se desenvolve, a fantasia de intensifica a ponto de deixar todo mundo inebriado com a história.

12. White Album – um calhamaço
O Pintassilgo - Donna Tartt
"O Pintassilgo" nem é um calhamaço assim feito o Ulysses (que estou quase na metade), mas atende bem a esta categoria, uma vez que suas quase 800 páginas fazem desse livro, um livro de peso. E não só pelo volume, mas também por seu conteúdo. Nele, acompanhamos Teo, um jovem cuja trajetória de vida está atrelada à pintura famosa que dá título à obra. O livro, amado por uns e odiado por outros, esteve nas principais manchetes do meio literário por ser o ganhador do prêmio Pulitzer de 2013. 

13. The long and winding road – um livro triste
Não me abandone jamais - Kazuo Ishiguro
Os personagens desse livro carregam uma tristeza que atravessa toda a história contada por Ishiguro. Ao investigar essa tristeza, o trio de protagonistas (um jovem e duas moças) vão descobrindo que a orfandade que os une parece traçar destinos impossíveis de se alterar. Olhares para dentro da alma fazem os contornos dessa ficção científica (!) um dos mais tristes que eu já li. Uma dica: não leia nada a respeito da história, pois o mistério que envolve esses jovens é uma da partes mais legais de se descobrir aos poucos. Um livro lindo e repleto de bons motivos para começar a ler agora.

14. Revolution – um livro com personagem questionador
Fun Home - Alison Bechdel 
Alison faz dela mesma uma personagem forte em Fun Home, graphic novel em que a autora investiga sua relação como próprio pai. Entre conflitos e incertezas o traço questionador da protagonista é o que permanece e atravessa toda a história. Tocante na medida certa e irônica quando preciso, Bechdel vai desdobrando a personalidade do pai até encontrar-se nessas dobras. Uma história inspiradora!

Foto: Wolney Fernandes