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domingo, 17 de outubro de 2010

Não me abandone jamais

Até ontem tinha lido apenas 112 das 343 páginas do livro "Não me abandone Jamais" de Kazuo Ishiguro. Das pequenas sessões de leitura feitas antes de adormecer passei a um domingo mergulhado nas memórias e melancolias vividas por Kathy H. e sua longa amizade com Ruth e Tommy em Hailsham, o internato onde passaram toda a infância.

Pela voz contida de Kathy, descubro que os dilaceramentos da vida também se ocultam nas coisas simples, nas rotinas diárias e atitudes corriqueiras. Como aparência e essência, a realidade mostrada pelo livro conseguiu me falar sobre minha própria existência.

Vidas que não merecem ser vividas, destinos traçados e olhares para dentro da alma são os contornos para esta ficção cientifica(?!) que, potencialmente, se apresenta como uma história de rupturas e entrega. Mexido, terminei as 231 páginas restantes (em um único dia), com aquela sensação de que havia explorado, como nunca, o limite entre sensibilidade e crueldade.

"De olhos semicerrados, pensei no lixo, no plástico balançando nos galhos, na franja de objetos vários ao pé da cerca, e imaginei que esse era o lugar onde tudo o que eu havia perdido desde os tempos de infância tinha ido parar, e que se eu, ali imóvel, esperasse o suficiente, uma minúscula figura apareceria no horizonte, lá bem ao longe, e iria aumentando aos poucos [...]"

Aviso aos leitores possíveis: antes de se aventurarem pela leitura da obra, não leiam nenhuma sinopse mais longa da trama para não estragar as surpresas e revelações trazidas por Ishiguro. Sua regência, pela escrita, é capaz de orquestrar a precisão e a fluidez necessárias para uma experiência, no mínimo, instigante.

A adaptação cinematográfica do livro ainda não tem data para estrear no Brasil, mas já está em cartaz nos EUA. Veja trailer aqui.

Um comentário:

Deire Assis disse...

Depois do alerta, resisti e não espiei o trailer. rs