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terça-feira, 5 de agosto de 2014

Perfume - História de um assassino


Minha impressão ao postar a foto desse livro nas redes sociais foi de que eu era a única pessoa do planeta que ainda não tinha lido essa história tão bem escrita por Patrick Suskind.

No meio de leituras mais densas que permearam os últimos dias, pensei em me aventurar em uma história sem os existencialismos que eu tanto gosto, mas que sempre me deixam deveras impressionado e arrisquei que “O Perfume – História de um assassino” pudesse ser essa lufada de frescor.

Não me enganei, mas também não foi uma leitura tão fresca assim. Parte da trama eu já conhecia porque amigos sempre me falavam coisas boas acerca do filme (que eu ainda não vi). Isso acabou deixando a leitura menos surpreendente e me fez querer chegar logo em partes importantes da história, passando com muita rapidez sobre o que acontece entre um acontecimento-chave e outro.

Para os que ainda não sabem, o livro conta as desventuras de Jean-Baptiste Grenouille, um perfumista nascido na fétida Paris do século XVI, às voltas com o desejo sem limites de conseguir o aroma perfeito.

Dito assim, parece bem pouco, mas pode acreditar que o livro é muito mais do que isso. Narrado com um virtuosismo impressionante em torno da descrição dos cheiros, é impossível passar por suas páginas sem ter a ligeira impressão de que os odores parecem desgrudar dali direto para o nariz de quem lê. Isso eu achei uma sacada muito boa diante do tema.

“Era um dos dias mais quentes do ano. O calor pairava como chumbo por sobre o cemitério e empurrava para as vizinhas os gases de putrefação que cheiravam a uma mistura de melões podres e chifre queimado. (...) Os peixes, presumidamente recolhidos do Sena naquela manhã, já fediam tanto que o seu fedor se sobrepunha aos dos cadáveres.” [p. 8-9]

E assim, todas as cenas são descritas pelos cheiros que as compõem. Grenouille nasce sem cheiro, mas tem um olfato hiper aguçado. Essa dádiva (ou maldição como ele, aos poucos, vai descobrindo) acaba o diferenciando dos demais, levando-o às raias da loucura no desejo de encontrar aromas que tragam a paz que ele almeja à sua vida miserável.

A escrita de Suskind é fluida, precisa naquilo que se propõe e consegue desencadear boas surpresas ao longo da narrativa linear. O autor utiliza recursos muito bons para avançar de uma etapa a outra da vida do protagonista como por exemplo, a revelação da morte, mesmo que em futuro distante, dos personagens que fazem diferença na vida do perfumista.

Cheio de alfinetadas e criticas sociais, o livro começa com um ritmo muito bom, dá uma desacelerada na metade e volta a ficar incrível na última parte. Acho até que ele possui um dos melhores desfechos que eu já li em termos de suspense, surpresa e coerência com tudo o que foi desenvolvido anteriormente. Uma leitura sem muitos percalços e que me deixou com vontade de ler mais romances sobre assassinos.
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Livro: O Perfume - História de um assassino [3/5]
Autor: Patrick Suskind
Editora: Record

Foto: Wolney Fernandes

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