Um pedacinho de papel brinca de desafiar os carros no meio da rua: leve e feliz. Sobe, desce, passeia na altura da janela do terceiro andar, faz um looping e se mete entre um carro vermelho e outro prata. Fragmentos dessa manhã de sábado, quente e sem qualquer plano pronto para o resto de toda a vida.
- Um dia de cada vez. Não é assim?
O coração, sem sossego, bate em disritimia. A barba tenta esconder, sem sucesso, o trincar dos dentes em desalinho. O passeio disfarça, por breves esquinas, a pouca vontade de ficar em casa. O mormaço desse tempo que se prepara para parir a primavera comprime todas as minhas vontades. Se é que resta alguma. Ando com vontade de nada. Isso sim!
Essa sinceridade sem premeditação denuncia um quase calar-se no meio da frase, incomoda às vezes, mas inspira a não deixar meias verdades entre os lábios e a garganta.
- Língua não é pra isso, eu bem sei!
Assim, sem meias verdades ou meios planos ou pensamentos meio tortos é que vale ter um emaranhado de saudade daquilo que ainda não vivi.
- São metáforas, baby. Vem cá que eu te explico.
E depois de tanto tempo, me descubro um homem cheio de metáforas, uma letra de música que ainda não conhece a melodia.
Foto de Ben Zack
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