segunda-feira, 4 de agosto de 2014
Tempo de Guerra
"Volta pra calçada porque eles vão passar o pneu em cima do seu pé" - A senhora me alertou quando eu discretamente ensaiei esperar o sinal verde no cantinho da esquina. Com cara de poucos amigos e reverberando uma impaciência no modo como trocava os pés a cada dois segundos, desfiou histórias de atropelamentos vistos e imaginados por ela, ali, naquela faixa para pedestres.
Enquanto atravessávamos juntos, (ela abrindo o caminho, é claro!) continuou inquisidora como se estivéssemos num campo de batalha:
"Você mora por aqui?" - Balancei a cabeça que sim enquanto ela esbravejava: "Eu moro naquela favela ali!" apontou, com o queixo, um dos edifícios mais imponentes do centro.
"Um inferno! Ainda bem que estou me mudando desse país de merda!"
Ao chegar do outro lado da rua, corrigiu: "O problema aqui é o povo! Odeio brasileiro!" E adentrou a portaria do prédio já resmungando com o porteiro e batendo o portão.
Entendi que, para ela, o sinal vermelho era uma constante. Foi assim que, ao ganhar a próxima esquina, diante do sinal verde, recitei baixinho:
"Que eu sempre encontre um modo de me apaziguar. De não estar o tempo todo em guerra com o mundo e, principalmente: ali, nas primeiras horas da manhã, que eu não me odiasse tanto.
A imagem eu achei aqui.
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