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terça-feira, 1 de julho de 2014

Sérgio Y. vai à América


Pra começar, tive duas boas indicações a respeito desse livro feitas por amigos que também gostam de ler. Para aumentar a expectativa, a sinopse também me fisgou: Armando, um psiquiatra experiente resolve investigar o que levou um paciente antigo - o Sérgio Y. do título - a abandonar o tratamento de forma abrupta para morar em Nova York. Na tentativa de entender os dramas e descobertas que não foram compartilhadas no consultório, o narrador empreende uma busca por respostas que vão ajudá-lo no entendimento do outro e de si mesmo.

Diante dessa perspectiva, comecei a leitura cheio de empolgação, mas à medida que avançava o entusiasmo diminuía. Infelizmente o livro não funcionou pra mim. Achei a narrativa rápida demais, por vezes rasa e repleta de clichês que são desfiados amiúde durante a jornada do psiquiatra. A construção dos personagens não se aprofunda a ponto de entendermos a motivação de cada um deles e, se no começo, mergulhamos nas inquietações do Dr. Armando, elas se dissipam bem rápido sem que entendamos as vias pelas quais ocorreram essas transformações. Uma conversa e pronto! Tudo parece se resolver como num passe de mágica.

E assim acontece com todos os coadjuvantes da história, todos muito bem nascidos, resolvidos e articulados. Frente ao drama que se apresenta diante de cada um deles, chegam a refutar alguns sentimentos e encará-los com certa tristeza ou dificuldade que logo são dissipados e superados por um discurso pautado na busca incessante pela felicidade que justifica, inclusive, a morte: Morrer não é nada quando se morre buscando ser feliz!

Para mim, o ápice desse discurso fundamentalista está na fala da mãe do Sérgio Y. quando ela explica todo o drama(?) do livro com uma metáfora bem rasa e piegas:

"Sergio só queria ser feliz. Foi isso o que o meu filho foi fazer em Nova York. Foi procurar uma maneira de ser feliz. Foi fazer uma limonada com o grande limão que Deus colocou na vida dele."

Ao ler tamanha revelação, minha vontade foi parar a leitura, mas faltavam poucas páginas para o fim e decidi continuar mesmo achando que essa seria a medida para abandoná-lo. E se o livro tem qualidades, uma das poucas que eu consigo elencar é o modo fluente com o qual o autor conta a história e desencadeia os fatos em capítulos curtos e concisos. Apesar das 160 páginas, consegui ler o livro em pouco mais de duas horas.

Vale a pena acompanhar também mudança de percepção do Dr. Armando em relação às próprias limitações e sua avaliação acerca da vaidade que todo profissional parece construir em torno daquilo que faz. Ao desconhecer os motivos que levaram Sérgio Y. a abandonar o tratamento, o psiquiatra olha pra si mesmo na tentativa de ver como isso o afeta no campo pessoal e profissional.

Há também uma reviravolta na metade do livro que consegue instigar a leitura até o final em função do mistério que se abre frente a curiosidade do protagonista, mas quando o autor utiliza um livro dentro do livro para justificar a mudança de Sérgio Y. parece enfraquecer as motivações que sustentam a própria premissa do livro que temos nas mãos. É verdade que os livros nos influenciam, mas não são os únicos responsáveis pelas mudanças drásticas que ocorrem em nossas vidas. Essa teia é muito mais complexa e ao puxar apenas um dos fios que a compõem, o autor simplifica a vida e a faz parecer livre de dúvidas, angústias e outras tristezas.

Gostei não!
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Livro: Sérgio Y. vai à América [2/5]
Autor: Alexandre Vidal Porto
Editora: Cia. das Letras

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