Mas eu não era o único, afinal quem nunca sacou o celular para conferir um novo e-mail ou atualizações das redes sociais no restaurante, no cinema, na fila do banco, no ônibus, na cama, etc? Esta situação e tantas outras semelhantes e comuns nos dias de hoje é o que nos aproxima do futuro onde a história de Ela (Her, EUA, 2013) se passa.
Destaque seja dado ao belíssimo desenho de produção do filme que projeta um mundo “instagramizado” como bem definiu uma amiga fazendo referência a uma realidade filtrada por cores e camadas programadas para realçar só o que nos interessa.
A linha que o filme traça entre realidade e ficção é realmente nebulosa. Para entender isso basta ler a sinopse. Theodore (Joaquin Phoenix), um homem comum, com alguns poucos amigos, está passando por um doloroso processo de divórcio com a ex-mulher que ele ainda ama.
O moço solitário acaba procurando conforto – e encontra!!! - em um sistema operacional do tipo faz-tudo. Desenvolvido com inteligência artificial e voz de Scarlett Johansson, esse misto de secretária, amiga e namorada é batizado como Samantha e, aos poucos, passa a ser a solução perfeita para todos os problemas de Theodore que não consegue interagir com o meio social.
Aliás, sociabilidade não é bem a palavra para definir o modo como as pessoas interagem no longa. Quando Theodore anda pelas ruas, o que vemos são pessoas que - assim como ele no filme e eu no supermercado -caminham com um fone de ouvido conversando com seus próprios aparelhos.
Cada pessoa parece presa em um mundo particular com seus sistemas operacionais onde tudo é perfeito... ou quase, como nos deixa entrever o roteiro tão bem articulado de Spike Jonze que dirige o filme com maestria e sabe colocar o dedo na ferida dessa geração que caminha para esse futuro individualista que já está bem ali, pertinho de nós.
Dentre as tantas qualidades da obra, também merece destaque a trilha sonora composta por William Butler e Owen Pallett do Arcade Fire. O tom melancólico dá a exata medida para acompanharmos essa história de amor tão peculiar.
Ao se apaixonar por Samantha, Theodore inicia o que ele acha ser um relacionamento ideal, pois ela está sempre à sua disposição e, atuando em função dele, sabe exatamente como agradá-lo. Esse estado de eterna permanência se contrapõe aquilo que levou o casamento de Theodore ruir: o fato dele e da ex-mulher (Rooney Mara) terem mudado. Não é assim na vida real? Quando o outro se torna diferente daquilo que a gente estabeleceu como perfeito, tudo parece desandar.
O filme questiona o tipo de relações que queremos e que necessitamos para evoluir. Afinal, amar quem só concorda com a gente ou que nos serve é fácil. As relações humanas, no entanto, existem justamente para aprendermos com o que é diferente, com o que nem sempre nos agrada e com o que se volta difícil.
Por outro lado, Se Theodore ri do sarcasmo de Samantha, se preocupa com ela e fica angustiado quando eles não estão bem, estes sentimentos não seriam reais? E se forem reais, a relação também não seria? Enfim, questões profundas, bastante pertinentes para o tempo que vivemos e, por isso, tão inquietantes.
Eu acredito que filmes realmente bons são esses que permanecem com a gente, mesmo depois do fim. E se Ela me fez pensar nas diferenças entre comprar palmito hoje e há 10 anos atrás, já vale uma indicação. Pode confiar!
A linha que o filme traça entre realidade e ficção é realmente nebulosa. Para entender isso basta ler a sinopse. Theodore (Joaquin Phoenix), um homem comum, com alguns poucos amigos, está passando por um doloroso processo de divórcio com a ex-mulher que ele ainda ama.
O moço solitário acaba procurando conforto – e encontra!!! - em um sistema operacional do tipo faz-tudo. Desenvolvido com inteligência artificial e voz de Scarlett Johansson, esse misto de secretária, amiga e namorada é batizado como Samantha e, aos poucos, passa a ser a solução perfeita para todos os problemas de Theodore que não consegue interagir com o meio social.
Aliás, sociabilidade não é bem a palavra para definir o modo como as pessoas interagem no longa. Quando Theodore anda pelas ruas, o que vemos são pessoas que - assim como ele no filme e eu no supermercado -caminham com um fone de ouvido conversando com seus próprios aparelhos.
Cada pessoa parece presa em um mundo particular com seus sistemas operacionais onde tudo é perfeito... ou quase, como nos deixa entrever o roteiro tão bem articulado de Spike Jonze que dirige o filme com maestria e sabe colocar o dedo na ferida dessa geração que caminha para esse futuro individualista que já está bem ali, pertinho de nós.
Dentre as tantas qualidades da obra, também merece destaque a trilha sonora composta por William Butler e Owen Pallett do Arcade Fire. O tom melancólico dá a exata medida para acompanharmos essa história de amor tão peculiar.
Ao se apaixonar por Samantha, Theodore inicia o que ele acha ser um relacionamento ideal, pois ela está sempre à sua disposição e, atuando em função dele, sabe exatamente como agradá-lo. Esse estado de eterna permanência se contrapõe aquilo que levou o casamento de Theodore ruir: o fato dele e da ex-mulher (Rooney Mara) terem mudado. Não é assim na vida real? Quando o outro se torna diferente daquilo que a gente estabeleceu como perfeito, tudo parece desandar.
O filme questiona o tipo de relações que queremos e que necessitamos para evoluir. Afinal, amar quem só concorda com a gente ou que nos serve é fácil. As relações humanas, no entanto, existem justamente para aprendermos com o que é diferente, com o que nem sempre nos agrada e com o que se volta difícil.
Por outro lado, Se Theodore ri do sarcasmo de Samantha, se preocupa com ela e fica angustiado quando eles não estão bem, estes sentimentos não seriam reais? E se forem reais, a relação também não seria? Enfim, questões profundas, bastante pertinentes para o tempo que vivemos e, por isso, tão inquietantes.
Eu acredito que filmes realmente bons são esses que permanecem com a gente, mesmo depois do fim. E se Ela me fez pensar nas diferenças entre comprar palmito hoje e há 10 anos atrás, já vale uma indicação. Pode confiar!
Texto publicado no "A Gambiarra"
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