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quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Quando tudo é solidão

Sim! Me incomoda ter que explicar meu caso de amor com a solidão. Há quem encare minhas idas ao cinema, parques, viagens ou passeios sozinho com espanto e incredulidade. Há também aqueles/as que sapecam um diagnóstico precoce diante do fato de não "estar com alguém": é mentira, medo ou depressão! Procurar um tipo de cura e paz que só podem vir da solidão não parece mais um caminho possível. Solidão virou patologia ou crime, pois não há redenção para quem decide inflingir a famosa lei "jobiniana" que, poeticamente, decreta: "é impossível ser feliz sozinho"!

Aviso aos navegantes: não se trata de não acreditar que a felicidade é intensificada quando compartilhada. Nem de adotar a solidão como um estilo de vida permanente, mas de não depositar toda a esperança de salvação fora de mim mesmo. Não estou sozinho para buscar companhias diferentes ou ter o campo livre para "ir à caça" em rituais que, falsamente, sugerem que só é possível aproveitar a vida de forma descompromissada.

Dentro dos longos espaços solitários que tenho vivido, brotam coisas bonitas e simples. Por vezes, até penso em escrevê-las, mas, sei lá, tenho preferido guardá-las em fronteiras que se movem entre angústias e sonhos bons. Sem aquela invenção de personagens ou exigências de que eu seja quem as pessoas queiram ou precisam. É nesse vazio que me movimento em [re]descobrimentos de mim mesmo.

Quando tudo é silêncio, relembro que viver é dar sentido ao que não tem sentido algum. Se essa liberdade cobra um preço alto para a maioria, para mim é uma dívida fácil de quitar. Portanto, minha resposta, que vem em forma de pergunta, faz coro com Marisa Monte ao questionar: "Quem foi que disse que é impossível ser feliz sozinho?"

Foto: Wolney Fernandes

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Eles passarão*

Alfred Hitchcock

Van Gogh

Walt Disney


Tom Ford


Pixar


Escher
Eu, passarinho*

(*) Do poema de Mário Quintana

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Nos quintais da burocracia

Foto: Wolney Fernandes

Sem palavras

Há cenas que, de tão belas, dispensam palavras.

01. Namoro pelas ruas em "Não por acaso"
02. Beijos de Amélie em "O Fabuloso destino de Amélie Poulain"
03. Café da manhã em "Bonequinha de Luxo"
04. Dança no ar em Billy Elliot"
05. Olhares em "Antes do Amanhecer"
06. A triste caminhada em "Vidas Secas"
07. A canção de ninar em "Dumbo"

Imagem capturada em http://www.annyas.com/screenshots/

Mulheres do bosque

Bloco na mão e as vistas desenhando corpos femininos. Cada risco no papel resumindo cansaços, passeios e curiosidades. Cada pedaço de corpo se desdobrando em vivências poéticas para além da fronteira do papel.

Desenhos: Wolney Fernandes

Chuva no Cerrado

Quando a primeira chuva abre o tempo das águas, escorrem cheiros de terra molhada das flores do cajueiro.

Foto: Wolney Fernandes

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Mademoiselle Chambon

É bonito ver como o diretor de "Mademoiselle Chambon" (França, 2010) acredita nos silêncios, nas palavras não ditas e no frescor das sutilezas para contar uma história de amor [confira uma amostra pelo trailer do filme]. Um pedreiro e uma professora são os protagonistas que, aos poucos, travam um dilema entre o desejo e a culpa.

Jean vive um casamento estável e é pai de um adorável garoto. Mesmo vivendo uma união feliz em família, de uma hora para a outra se pega atraído pela professora do filho. Solitária, a doce Véronique Chambon é substituta numa escola do interior, onde vive o pedreiro que gosta de música erudita.

Talvez a maior qualidade do filme seja a sobriedade com a qual os desejos de um e de outro são tratados para além da ordem sexual. O inusitado casal se entende, acima de tudo, por diálogos diminutos, por olhares de cumplicidade e pelo gosto comum por melancolias.

Mas o dilema se instaura pelas negociações - sempre complicadas - entre se entregar ao desejo e assumir os riscos e as consequências advindas desta entrega. Pela proximidade tocante, a narrativa convence pela sinceridade com a qual a situação é retratada na tela. Bom de ver e rever.


Imagens capturadas em http://www.sharmillfilms.com.au/?p=45

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Docemente pornográficos" *

"Cu de galinha é abençoado. Tenho de falar porque senão não tem fim e não aguento mais. Ninguém aguenta. Portanto, digo: cu de galinha é abençoado. De gente também. FOI DEUS QUEM FEZ! Ai! Pronto! Falei! Não aconteceu nada? Isto mesmo que eu queria, cinturinha de boneca. Curitiba, cujo, cubatão, cunhado, caracu, pacu, que é um peixe, paixão, sinal de Jesus. Me benze, Dona Maria benzedeira, me põe em transe para eu falar todos os palavrões do mundo e acordar pedindo comida, não quero mais pedir perdão, quero pedir comida (...)

Ainda bem que as Madonas têm os seios expostos e o Menino não cobre seu pintinho. Deus não me fez até a cintura pro diabo fazer o resto. Ou tudo é bento ou nada é bento. (...) Já apedrejei outros, roendo-me de secreta inveja do que julgava ser os prazeres da danação e eram os querubins cantando. Eu só conheço uma língua, é nela que serei arguida e direi o que desde já balbucio entre lágrimas, horror, cansaço e suculentos nacos de alegria: Ó Senhor, eu quero amar tudo."


(*) Título retirado do Poema de Carlos Drummond de Andrade
Texto de Adélia Prado
Imagem capturada em http://one-of-those-women.blogspot.com/2008_12_01_archive.html

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Los Gritones

Saudade de ter fé

Por vezes, com abismos diante dos meus pés, minha vontade é pular. E sinto saudades de ter fé porque minhas crenças estão diluídas em poeiras e perfumes, sem horizontes desenhados por trindades e utopias.

As orações diárias são proferidas por meus olhos que passeiam pelos encantos do cotidiano, ora com interesse, ora com indignação. E, se antes minhas inquietações residiam no seio das instituições, hoje elas habitam os contrastes construídos entre a diminuição de floriculturas e o aumento de filas.

Por não teologar pelas vias que me catequizaram tão bem é que, vez por outra, sinto saudades daquela fé ingênua capaz de colorir labirintos e traçar pontes de algodão em abismos sem fim.

Foto: Wolney Fernandes

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Rimas fáceis

Tarde de risos para escolhas de tons, linhas, escritas e bordados em camisas de algodão. Tudo devidamente regado à chopp de uva, suco de melancia e torta de limão.

Foto: Wolney Fernandes

domingo, 19 de setembro de 2010

Domingo de setembro

Em domingos de setembro, vejo o sol escorrer parede afora... vagarosamente.
Em domingos incomuns, o café da manhã é salpicado com música, delícias e um tantinho de solidão.
Em domingos de calor, o bosque vira passeio de ventos e chuviscos.

Fotos: Wolney Fernandes

sábado, 18 de setembro de 2010

Vestida de Girassóis

...e faceira ela segue vestida de girassóis carregando o céu nas próprias mãos.

Foto: Wolney Fernandes

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Confirmações



JORGE - Do grego antigo: Geōrgios (Γεώργιος), uma derivação do substantivo geōrgos (γεωργός) - "aquele que trabalha a terra, agricultor"

"Quando se ama uma imagem, ela há muito deixou de ser apenas um fato, um acontecimento passado. Antes, se apresenta como realidade viva, motivo de inspiração e nuanças próprias, considerando a realidade vivida do sujeito na trama significativa de sua existência imediata e projetiva. A imagem é fruto do vivido; é possibilidade de construção, isto é, realidade móvel e polissêmica"
[Jeferson Retondar]

Imagem: Montagem com fotos de vô Jorge

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

[e]Terno

Não sei me perder. Insisto numa ilusória eternidade por pura covardia de compreender melhor, a mim, o tempo, a vida, o outro. Ninguém é capaz de sobreviver sem sofrimentos, pois nossas escolhas são pequenas dores no cotidiano. Eu, displicente, carrego meu próprio campo de impasses.

Como é possível suportar dizer adeus para alguém que você até pouco tempo nem conseguia imaginar viver sem? Não sei. Mas sei que não dá para ficar nesse eterno movimento de atualização de tristezas. Se não há como aprender a silenciar, que surja mais sabedoria para amar e habitar na poesia de Vinícius, misturada aos acordes de Otis Redding: "Que seja eterno [e terno] enquanto dure".



Foto: Wolney Fernandes

domingo, 12 de setembro de 2010

"Uma história de Lagolândia"

Dona Abadia é uma 'menina' de quase 80 anos, poetisa popular, pé-de-valsa e amiga dos abraços de alecrim. Vez por outra, conta histórias de Lagolândia em versos que ela mesmo escreve entre risos que atravessam acordes de imaginação. Por ocasião da minha defesa de mestrado, ela escreveu pra mim, o poema que reproduzo abaixo e que só agora, 1 ano e meio depois, chegou em minhas mãos:
"Vou lhe contar uma história que vai ser muito boa

Lagolândia antigamente chamava Lagoa

Eu vou contar mais ou menos as coisas que eu sei
Eu vim conhecer aqui foi depois que eu me casei

Lagolândia é uma cidade histórica que muita gente não acredita
Antigamente tinha uma salão que era o hospital da Dona Dica

Dona Dica era uma mulher famosa por este Brasil inteiro
Vinha gente de todo lugar, até do Rio de Janeiro

Dona Dica era uma mulher muito caridosa que tinha o coração nobre
Curava os enfêrmos e casava as moças 'pobre'

Depois aconteceu uma tragédia que todos os moradores 'se assombrou'
Esta história virou uma revolução que o povo todo lutou

Eu vou lhe contar, mais ou menos, do jeito que a notícia correu
Deu uma chuva muito forte e o rio encheu

Foi uma correria que o povo entrou em despespero
Dona Dica caiu no rio e foi tirada pelos cabelos""

Compositora: Abadia da Silva Camargo
Foto: Wolney Fernandes

sábado, 11 de setembro de 2010

Just in time

No sábado à tarde, antes do pôr-do-sol, ao som de Nina Simone.

"Lembranças são ótimas se a gente não tem de lidar com o passado"
"Não se pode substituir ninguém porque todo mundo é a soma de pequenos e belos detalhes"

Imagem capturada em http://movie.zing.vn/Movie/before-sunset/before-sunset/phim-dien-anh/m4545.html

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Contrastes Possíveis

Domingo, da janela do décimo andar, as cores e toda espontaneidade da parada gay.

Terça-feira, da janela do décimo andar, a monocromia e toda a disciplina da parada militar.

Fotos: Wolney Fernandes

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

sábado, 4 de setembro de 2010

De ilha e chiclete


Camisa xadrez, bolsa a tiracolo e montes de desenhos embaixo do braço. Corri para alcançar o prédio onde as crianças me aguardavam sentadas em sala de aula do Colégio Aplicação da UFG. A parede branca aguardava as imagens que me desenham e que me apresentariam a elas.

Apresentações formais não foram necessárias. A professora motivou e todos/as disseram em coro uníssimo: "WOLNEY FERNANDES". Enquanto inseria o CD com as 25 imagens de poeira, nuvens, paredes e flamboyants que eu levara, senti os olhos curiosos vasculharem cada gesto meu.

Toda imagem mostrada desenhava reações variadas nas palmas das pequenas mãos que se levantavam cheias de curiosidade. A professora, com cuidado e palmas, pedia para deixarem as perguntas para depois.

Por 15 minutos, falei de mim, do rio da minha cidade e dos desenhos elaborados com embalagem de chiclete em cada restinho de papel. Quando, finalmente, a fala foi dada à turma, saltaram as perguntas engolidas até então:

"Wolney Fernandes, o que é esse furo no seu queixo?"
"Qual a cor que você mais gosta?"
"Pra que time você torce?"
"O que você mais gosta de desenhar?"
"Quantos anos você tem?"
"Você consegue desenhar uma Ferrari?"
"Que herói você mais gosta?"
"Quantos desenhos você já fez?"
[...]

Curiosidades saciadas, uma pequena fila formou-se em meio à euforia que tomava conta deles e de mim. Cada um/a trazia um pedacinho de papel onde eu riscava, em 30 segundos, desenhos variados.

Na saída, depois da foto coletiva - com direito a braços no pescoço e "chifrinhos" feitos com os dedos - uma menina e um menino correram até mim, cada um deles com algo na mão. A menina, que parecia a menorzinha de todas, entregou-me a ilha com coqueiros que ilustra esta postagem acompanhada de um conselho:

"Pra você descansar quando estiver no meio do rio".

Sem que eu pudesse responder, ela correu para a sala e só deu tempo do menino entregar a embalgem de chiclete, que ele saboreava, com a seguinte indicação:

"Pra você usar no seu próximo desenho!".

Estudos em Vermelho

Foto: Wolney Fernandes