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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tudo o que não sei

"Eu sei muito pouco, mas tenho a meu favor tudo o que não sei, e por ser campo virgem está livre de preconceitos."
[Clarice Lispector]

Foto: Wolney Fernandes

Vontade

Quando as cores se fazem tenda, minha vontade é habitar à sua sombra.

Foto: Wolney Fernandes

O que me cerca

- Páginas amarelas de livros antigos
- Filmes para ver
- Aridez sertaneja de Guimarães Rosa
- Filmes para [re]ver
- Cores na ponta do lápis
- Filmes para [revi]ver
- Olhares de Frida Kahlo (sempre!)

Foto: Wolney Fernandes

Das vozes que me embalam


CD "Let the road pave it self" de Phillip Larue
Melhor Faixa: Chasing the Daylight



CD "Quite Often" de Trent Dabbs
Melhor Faixa: Until You Won Me Over



CD "The Second Gleam - Emotionalism" do The Avett Brothers
Melhor Faixa: Murder in the City



CD "The Bakman Tapes" de Susie Suh
Melhor Faixa: Feather in the Wind



CD "Little Miracle" de Kim Taylor
Melhor Faixa: I am You



CD do "Jason Walker"
Melhor Faixa: Down

Ato Penitencial

Confesso a Deus todo-poderoso e a vós, irmãos e irmãs, que pequei muitas vez por pensamentos e palavras, atos e omissões.

Por minha culpa, minha tão grande culpa... os dias precisam de preenchimentos sem fim para lançar os vazios daqui de dentro para fora.
Por minha culpa, minha tão grande culpa... acordo tarde em dia de segunda e tranço desculpas para não sair de casa.
Por minha culpa, minha tão grande culpa... o desejo torna-se apenas um sotaque que se escuta na breve entonação de uma frase proferida.
Por minha culpa, minha tão grande culpa... leio as dores alheias sem pronunciar palavras de cura.
Por minha culpa, minha tão grande culpa... não pronuncio curas porque minhas enfermidades não desenham diagnósticos possíveis.
Por minha culpa, minha tão grande culpa... risco imagens de mim sem traduções possíveis.
Por minha culpa, minha tão grande culpa... meus erros travestidos em silêncios buscam um toque mais íntimo com a solidão.

E peço aos anjos e santos e a vós, irmãos e irmãs, que me rogueis toda sorte de castigos e, então, me deixeis aqui, assim, dilacerado... por minha culpa, minha tão grande culpa.

Foto: Wolney Fernandes

sábado, 28 de agosto de 2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mary e Max

"A vida de todo mundo é como uma longa calçada. Algumas são bem pavimentadas, outras [...] tem fendas e cascas de banana."

A aparente simplicidade da frase acima, elaborada por um dos personagens da animação "Mary e Max" (AUS, 2009), consegue resumir toda a complexidade embutida em nossas cotidianidades.

Contrastes como estes dão o tom do filme, desenvolvido com técnica de stop-motion, sobre a amizade entre uma menina australiana de 8 anos e um estadunidense de 44. Ambos começam a trocar respondências repletas de pensamentos filosóficos sobre a vida e, do improvável, nasce uma amizade que se estende por 20 anos.

A narrativa, cheia de sutilezas, além de cutucar os vícios e as fobias da sociedade contemporânea também consegue colorir nosso olhar em tons sépia e preto-e-branco. Apesar de tristonha, a história é profunda e bonita porque é envolta por diversas camadas.

Lembrou-me o livro "Griffin & Sabine", recheado de cartões postais e cartas trocadas entre os personagens que, aos poucos, revelam confidências e indagações acerca do mundo que os cerca.

Terminei o filme emocionado e com uma vontade louca de abrir a caixa de correio e lá encontrar pedaços de vida em texturas de papel, desenhos inacabados e cheiro de chocolate.

Imagem capturada em http://www.cinemaemcena.com.br/

domingo, 22 de agosto de 2010

Anestesias

Instrumentos e brancuras que anestesiam minhas mais recentes inquietudes.

Foto: Wolney Fernandes

sábado, 21 de agosto de 2010

Confusas limitações

De repente, a vida muda. Geralmente é madrugada, quando o silêncio se completa e aqui nesse quarto entulhado - protetor da vida que eu tenho medo de levar - busco o porquê das mudanças, sem sucesso.

Por assim dizer, numa tentativa patética de não mais vasculhar os entremeios e pontos de todas as marcas que a vida nos dá sem direito de recusas. Minha falta de habilidade em fazer desenho de mim mesmo me paralisa frente àquilo que muda. Emudeço diante do embaralhamento de meus próprios traços. E vejo mais um filme, e choro, e escuto outra música que ninguém conhece.

Mudar, pra mim, significa expressar-me francamente, sem entrelinhas ou técnicas subliminares para disfarçar minha sentimentalidade empacada pelo medo. Quando isso acontece, quase sempre acabo criando grandes vales entre mim e aqueles/as que amo. Dói ter as feridas abertas. Dói mais ainda quando é minha própria mão quem risca a pele com ponta de faca.

Por isso o ato de escrever aparece-me hoje como nudez indesejada, uma obrigação arbitrária e ainda assim, irresistível. E expurgo pensamentos melancólicos para que minhas idéias me transformem naquele que tudo pode.

Muito ainda haveria de ser dito. Contudo, poucas linhas depois, aqui estou. Teimoso apenas para reforçar tudo o que não sei dizer com palavras.

Imagem: "A Ponte de Heráclito" de René Magritte

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Lembranças em quadrinhos

Saudade do tempo em que minhas tardes eram recheadas com gibis acompanhados de queijo e rapadura.

Imagem: Wolney Fernandes

domingo, 15 de agosto de 2010

Ligações Perigosas

Quando um dos finais mais bonitos do cinema revela, com maestria, a arte de dizer tudo sem dizer nada.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sexta-feira 13

O dia amanheceu insistente e sem volta. No corpo, sentidos provisórios e parciais e no céu, as cores esmaecidas e cheias de nada, típicas do mês de agosto.

Sozinho, enquanto a luz preenchia o quarto, soletrei destinos possíveis e bordei, com olhos de ressaca, sorrisos, gestos, palavras e silêncios.

As dores de toda uma vida me cegaram esperando o momento limite para transbordar. Feito enchente que invade as ribanceiras, fui invadido pelo fluxo de meus erros... reeditados, insistentemente, enquanto minha vida durar.

Foto: Wolney Fernandes

domingo, 8 de agosto de 2010

Para registros de ventos e memórias

Quando texturas variadas registram e sopram memórias sobre avós, lugares e perfumes.

Foto: Wolney Fernandes

Sobre domingos e pinóquios

Era domingo, como hoje. Em uma cartolina rosada meu pai havia desenhado um Pinóquio para mim. Era desenho sem cor, mas os traços precisos e marcados pelo capricho ventilavam carinhos paternos, tão sutis como rascunhos feitos "de leve".

A história do boneco de madeira que queria virar menino era minha preferida e a promessa de tê-lo na parede perto da minha cama foi feita muito anteriormente àquela data. Talvez por isso, a sensação experimentada naquela tarde de domingo foi tão incrível a ponto de retornar amiúde em nacos de lembranças minhas.

O mais velho de dez irmãos, meu pai encabeçava uma lista de talentos distribuídos por uma família numerosa. Sua caligrafia retilínia era sinal de sua destreza com a caneta e de sua intimidade com as artes do fazer. Desenhava sim, mas o desenho nunca foi sua paixão. O desenho aparecia só para acudir os projetos que ele, vez por outra, inventava: balança para pesar ouro, mesinhas de centro feitas em granito, apetrechos de tocar viola etc.

Este é o 18º dia dos pais sem meu pai. Nesse tempo venho tentado delinear quais as imagens da nossa relação que ainda cultivo e o Pinóquio desenhado na cartolina rosa sempre encabeça a pequena lista. Acho que ele nunca soube porque eu também nunca disse, mas nos traços daquele desenho, de certa forma, fui sulcado por duas vontades que ainda carrego: a de desenhar e a de dizer a ele o que eu mesmo desejava ouvir.

Imagem: Wolney Fernandes

Iluminações surrealistas

Quando a obra de Magritte vira inspiração para uma luminária.

Foto: Wolney Fernandes

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Excesso de Mim

Eu, riacho indeciso, desde menino temo enormes temporais e ondas. Só sei me esconder desse excesso de [a]mar.

Não gosto de chuva movimentando minha superfície, pois suas lâminas pontiagudas atravessam meus extratos mais profundos e me perco no fluxo das coisas do mundo. A chuva - misteriosa e labiríntica - me fez crescer assim, rio atormentado.

Sem perceber que chuva, nuvem, rio e mar são todos lugares onde se anota o tempo, sigo meu curso evitando tempestades e me perdendo em curvas que dão acesso ao nada e em pontes que não vão a lugar nenhum.

Em meu reflexo ondulante, sou Narciso. Olho pra mim mesmo, espantado em perceber minha presença enquanto rio. Vivo um cenário de sombra sem hospedagem. Aturdido e causado com minha própria imagem, sem me saber água, tenho pedaços arrancados em intimidades e delicadezas que doem em profundezas impressionantes. Em minhas águas sigo à procura de abrigo e margem.

[...]

Suspiro, cansado de tanto nadar. Como tudo que é mundano e comum se torna terrível e selvagem, me afogo sem ar, ao perceber que meu coração sucumbe por excesso de mim mesmo.

Imagem: Narciso de Caravaggio

Nunca

"Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada,
No vento da madrugada
Serei um pouco do nada,
invisível, delicioso"

[Mário Quintana]

Imagem capturada em http://armazendatuca.blogspot.com/2009_09_01_archive.html

Sinal de Eternidade

Vô Jorge eu nunca conheci. Minha mãe é quem se encarrega de manter sua memória presente. Com admiração e ternura, ela conta do homem de traços simples que, pela maturidade, parecia pensar à frente do seu tempo: pai amoroso, esposo sensato, comerciante justo, homem do campo e regente da Folia do Divino. Até hoje é conhecido pela dedicação com a qual ele conduzia a vida de sua família no interior.

Sua fúria ele partilhava com a terra - conta minha mãe ao explicar como ele lidava com as angústias e infortúnios da vida de casado.

"Seu Nenzinho" era como todos/as o conheciam. Quase 40 anos depois da sua morte, a simples menção de seu nome faz as pessoas que o conheceram enxergarem em mim, seu neto, uma extensão do homem bom que ele foi. Título que desmereço, mas que o mantém respirando ao meu redor, desafiando o tempo com lembranças alheias que, mesmo não sendo minhas, me trazem sorrisos e inquietações.

Há um tempo atrás, mexendo em guardados antigos na casa que meu avô construiu em Lagolândia, encontrei a bandeira do Divino de uma das folias que ele regia. Gasta e empoeirada, ela ainda conversa beleza e significado que transcende sua materialidade. Emoldurada, virou sinal vivo da presença de vô Jorge na minha história. Sinal concreto de uma eternidade bonita que anseio tocar.

Foto: Wolney Fernandes

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Para embalar minhas melancolias

01. And then You - Greg Laswell
02. My Love - Sia
03. Never Meant To Hurt You - Wire Daisies
04. VCR - The XX
05. No One Would Riot For Less - Bright Eyes
06. Chanson triste - Carla Bruni
07. Lived In Bars - Cat Power
08. Older Chests - Damien Rice
09. Look no Further - Dido
10. Fair - Remy Zero

Imagem capturada em http://www.tapedeck.org/icm/

Os melhores presentes

Os melhores presentes - os que tocam o coração - são aqueles que parecem ter sido escolhidos por você mesmo. Como se o seu desejo desabrochasse em realidade pelas mãos de quem escolhe com olhos mareados de cumplicidades.


De cima para baixo:
01. Os componentes da banda - Adélia Prado
02. Bagagem - Adélia Prado
03. A Pedra do Reino - Fotografias de Renato Rocha Miranda
04. Balanço - Keiko Maeo
05. Lino Villaventura - Coleção Moda Brasileira
06. A vida secreta das abelhas - Sue Monk Kidd
07. Casa 12 - Letícia Constant
08. Babilaques - Waly Salomão
09. Hoje é dia de Maria - Carlos Alberto Soffredini
10. O design gráfico - Alain Weill
11. Frida Kahlo - Salomon Grimberg

Imagem: Wolney Fernandes

Entre lençóis

Tem dias que a gente acorda desejando dormir...
E a vontade é habitar em sonhos e lençóis.

Foto: Wolney Fernandes

A vida secreta das abelhas*

"E a fantasia.
Basta só a fantasia se a abelha é fugidia"

Emily Dickinson

(*) Título do filme "A vida secreta das Abelhas" (The Secret life of Bees - EUA, 2008)
Foto: Wolney Fernandes