Páginas

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Sonhos ilustrados


Revirando velhos arquivos, encontrei uma ilustração do tempo que eu sonhava ganhar a vida desenhando.

Gulliver - Miguel Bosé

Projetando sentidos

Quando há prazer em projetar alegrias de bolso.

Catando citações

"Caminhamos ao encontro do amor e do desejo. Não buscamos lições, nem a amarga filosofia que se exige da grandeza. Além do sol, dos beijos e dos perfumes selvagens, tudo o mais nos parece fútil. Quanto a mim, não procuro estar sozinho nesse lugar. Muitas vezes estive aqui com aqueles que amava, e discernia em seus traços o claro sorriso que neles tomava a face do amor. Deixo outros a ordem e a medida. Domina-me por completo a grande libertinagem da natureza e do mar."

Alberto Camus

Ilustração e Foto: Wolney Fernandes

Balanços

Querida Sofia!

Dia desses alguém lembrou você em uma de minhas conversas e fui tomado pelos momentos perdidos nos quais não mais senti vontade de lhe escrever. Estranho foi imaginar que nunca mais minhas inquietudes pudessem chegar até você. Senti uma espécie de escoamento de lembranças e por isso estou aqui novamente. Devo me desculpar pela sinceridade? Ou melhor, será que estou sendo sincero na medida que a ocasião merece?

Outro dia me peguei desejoso de meias verdades. É, cansei de desfiar o discurso da sinceridade porque, de repente, numa manhã, quando ela chega assim sem avisar, dilacera minhas quietudes. Sinceridade nua e crua machuca. Prefiro que ela venha revestida de verdades rendadas e, por favor, diga-me que essa afirmação não é só minha. Ou é?

Eu estou velho. Sim e nem se dê ao trabalho de discursar sobre juventudes tardias. Outro dia entrei no parquinho e uma moça gritou: "Só pode criança nesse balanço". Nunca me senti tão velho, nunca me senti tão pesado. Minha infância nunca mais será a mesma depois daquilo. Então, eu cheguei até aqui, velho.

Um velho que vive mais de lembranças do que de esperanças. É bom lembrar do moço que fui. É bom também chegar aqui neste meu pequeno altar emancipado e celebrar quase sem forças uma antiga reza para um Deus que foi embora. Entre todos esses pensamentos bagunçados, Sofia, ficam as lembranças de um tempo quase sagrado, não fossem tão profanos meus desejos. E mesmo quando falta a promessa, é nesta oração possível que ainda percebo o quanto estou vivo e sou o resto de tudo que amei.

Gosto de te escrever porque sempre termino assim, meio velho, mas menino.

Sou um ser de saudade – o fui sempre e agora ela mora aqui comigo.
Abraços prolongados!

Wolney

Imagem capturada em http://lineneto.wordpress.com/2008/12/05/balanco/

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Desafio 11


Desafiante da Semana: Adriano Antunes

Tema: "Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que seu amor - o mais benéfico que jamais tive - seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranquilo ou simplesmente feliz e 'generoso'."

(trecho do e-mail em que Grégoire Bouillier rompe com Sophie Calle)
..........................................................................................................
De Wolney Fernandes, Horizontes de Inquietudes.


.........................................................................................................
De Adriano Antunes, Pensei Que Isso Bastasse.

Pensei, e talvez seja esse meu maior defeito: pensar demais. Tento explicar o mundo, achar soluções para coisas complexas e às vezes até para as mais simples.
Uma louca capacidade de absorver o mundo, como ele é, do jeito que é, e embrulhá-lo para presente com o papel dos meus sonhos e emocionais fitas de seda.

Pensei que isso bastasse...

Pensei, e talvez seja por isso que me aprisiono em equívocos constantes, tentando evitar a dor, minha e dos outros, antecipando reações, controlando impulsos, criando soluções.

Pensei que isso bastasse...

Pensei que amar fosse algo bom. Que neste ato de amar não precisasse achar respostas para entender, seria só sentir, simples assim.

Pensei que isso bastasse...

Pensei que a verdade fosse uma prova real de amor-amizade, ofertada sem medo, sem pudor, de peito aberto, cabeça erguida.

Pensei que isso bastasse...

Pensei que nunca me sentiria só se estivesse cercado de pessoas, em lugares públicos, eventos sociais, grupo de auto-ajuda e até mesmo em funerais.

Pensei que isso bastasse...

Pensei que o amor pudesse crescer sendo alimentado apenas por um dos lados e que o tempo reverteria o processo, ou pelo menos o igualaria.

Pensei que isso bastasse...

Pensei que minha tristeza colocada em frases tortas e minha alegria descrita em versos sem rima mostrassem em profundidade minha alma.

Pensei que isso bastasse...

Pensei que meu amor, essa tal necessidade vital de te querer que impregna meus olhos, pudesse encher de alegria e plenitude esse teu mundo escuro, solitário.

Pensei que isso bastasse...

Mas, tu consomes o que tocas, como um buraco negro que engole tudo ao seu redor, sem distinção, sem julgamentos, sem ponderações. Tu te aproprias e ao mesmo tempo declinas dessa posse. Alguém que tem a sorte de possuir tudo, mas vive do nada por escolha, por capricho.

Pensei que isso bastasse...

Mas na angústia que te faz querer buscar novos horizontes, infelizmente mais sombrios, tu és sugado para dentro de ti mesmo. E nesse espaço vazio, de constantes tormentos, gritas:

“- Pensei que fosse suficiente... sentir-me feliz, generoso...”

Pensei que isso bastasse...

Pensei.
(.)

Pretextos

De onde vem essa inquietude que me entorpece os sentidos?
Almejo ventos de ouvir, pois brisas de silêncio já não me refrescam mais.
Na superfície, desejo imagens caligrafadas com pretextos absurdos. No fundo, quero destampar essa saudade descabida para transbordá-la em canções e sussurros de ninar.

Imagem: Wolney Fernandes

Mais doce no final

"O fim do homem é sempre mais marcado que o seu início. O por do sol, a música de encerramento; assim como a última mordida do doce é sempre a mais doce no final.
O que é escrito na lembrança, vale mais do que o que ficou perdido no passado."

Da minissérie Som e Fúria.

Imagem capturada em http://mmkx.blogs.sapo.pt/4333.html?mode=reply

sábado, 25 de julho de 2009

Sophie Calle, a cultuada artista contemporânea francesa, namorou o famoso escritor Grégorie Bouillier até que ele resolveu terminar o relacionamento por e-mail. A artista, de posse do e-mail do ex, pediu que 104 mulheres o intrepretassem e dessem uma resposta. As 104 manifestações foram reproduzidas em texto, música, poema, foto ou vídeo e reunidas em uma exposição que a artista intitulou "Cuide-se".

A idéia aqui é a mesma. Sete amigas e um amigo toparam fazer o mesmo movimento sugerido por Sophie e responderam o fatídico e-mail usando as mais variadas expressões. Divertida, a proposta explora acima de tudo a ambiguidade — seja por confundir os pápeis de autor/a, narrador/a e personagem, seja por atiçar equívocos de interpretação diante das obras.

Abaixo, o e-mail do Grégoire e as respostas recebidas.

O e-mail de Grégoire para Sophie

"Há algum tempo, venho querendo responder seu último e-mail. Na verdade, preferia dizer o que tenho a dizer de viva voz. No entanto, vou fazê-lo por escrito.

Você já pôde notar que não estou bem ultimamente. É como se não me reconhecesse em minha própria existência. Sinto uma espécie de angústia terrível, contra a qual não consigo fazer grande coisa, exceto seguir adiante para tentar superá-la. Quando nos conhecemos, você impôs uma condição: não ser a 'quarta'. Eu mantive o meu compromisso: há meses deixei de ver as 'outras', não achando logicamente um meio de vê-las sem transformar você em uma delas.

Pensei que isso bastasse. Pensei que amar você e que o seu amor — o mais benéfico que jamais tive — seriam suficientes. Pensei que assim aquietaria a angústia que me faz sempre querer buscar novos horizontes e me impede de ser tranquilo ou simplesmente feliz e 'generoso'. Pensei que a escrita seria um remédio, que meu desassossego se dissolveria nela para encontrar você. Mas não. Estou pior ainda; não tenho condições nem sequer de lhe explicar o estado em que mergulhei. Então, nesta semana, comecei a procurar as 'outras'. Sei bem o que isso significa para mim e em que tipo de ciclo estou entrando. Nunca menti para você e não é agora que vou começar.

Houve uma outra regra que você impôs no início de nossa história: no dia em que deixássemos de ser amantes, seria inconcebível para você me ver novamente. Você sabe que essa imposição me parece desastrosa, injusta (já que você ainda vê B., R.,…) e compreensível (obviamente…). Com isso, jamais poderia me tornar seu amigo. Você pode, então, avaliar a importância de minha decisão, uma vez que estou disposto a me curvar diante de sua vontade, ainda que deixar de ver você e de falar com você, de apreender o seu olhar sobre os seres e a doçura com que você me trata sejam coisas das quais sentirei uma saudade infinita. Aconteça o que acontecer, saiba que nunca deixarei de amar você do modo que sempre amei desde que nos conhecemos, e esse amor se estenderá em mim e, tenho certeza, jamais morrerá.

Mas hoje seria a pior das farsas manter uma situação que, você sabe tão bem quanto eu, se tornou irremediável, mesmo com todo o amor que sentimos um pelo outro. E é justamente esse amor que me obriga a ser honesto com você mais uma vez, como última prova do que houve entre nós e que permanecerá único.

Gostaria que as coisas tivessem tomado um rumo diferente.

Cuide-se."

As respostas

Uma carta

Grégorie, meu querido!

Tenho certeza que você não está nada bem, e o quanto é difícil dizer isso tudo pra mim, mesmo que seja por email. Quero deixar claro que preferiria uma conversa pessoalmente, porque um rompimento exige o encontro desses dois corpos que se amaram por um tempo considerável. Nossos corpos viveram momentos que marcam nossas vidas para sempre, mesmo que cada um agora decide tomar rumos diferentes. Momentos importantes para minha percepção do que era viver o Amor.


Seu email fez-me recordar uma escritora que adoro: Maria Soave em seu livro - A amante, a sábia, a guerreira, a feiticeira reflete sobre o Amor, e diz algo fantástico: que existem pessoas que exigem ser amadas e, por isso, nunca são elas mesmas, e tratam o amor como uma troca econômica, mais que existem pessoas que mergulham no amor, assim de graça, sempre maravilhadas e agradecidas. Estas são pessoas ecológicas, movidas pelo prazer, pela gratuidade. O amor que cultivei por você não foi uma troca econômica e sim um amor ecológico: cheio de prazer e gratuidade. Mergulhei encantada nesse amor que vivemos, e por viver intensamente todos os momentos que passamos juntos, quero que não se preocupe comigo - eu sei me CUIDAR.

Prova disso que saio dessa relação diferente de você: sem angústias e convicta de que fui verdadeira e inteira em todos os momentos que nos dedicamos um ao outro.
Percebo que você tem um desafio pela frente, de se tornar melhor nas próximas relações que surgirão no seu caminho e gostaria que soubesse que irei seguir minha vida e como canta Vanessa da Mata: “Eu vou tentar ser bem mais competente na escolha da próxima paixão”.

Cum Deus!


Cláudia Monteiro Lima
Estudante de Biologia
Brasília - DF

Um vídeo

O coração da bailarina


Naira Rosana
Arte Educadora
Goiânia - GO

Uma letra de música

InevitávelComposição: Indisponível
É tão inevitável, ter que esperar
Deixar o tempo ir, e não mais voltar
Lembrar desses olhares, outros pensamentos
Mesmo estando agora em outro lugar

Espero ainda esbarrar
Com você nessas esquinas
Espero ainda me lembrar
Mesmo que faça muito tempo
De como agente se via
Mas quando eu te encontrar...

Espero não estar
Mas no mesmo lugar
Mesmo tão longe, eu
Não penso em esquecer
De lembrar de você

Jaciara Pires
Goiânia - GO

Uma fotografia

Angélica D'Ávila
Arte Educadora
Santa Maria - RS

Outra carta

Você deveria ser chamado de “INCOERENTE ” e não Grégoire, porque você é a incoerência em pessoa.
É!!!!... porque:
Querer, há muito tempo, responder um e-mail a viva voz e acabar respondendo por escrito é INCOERENTE.
Sentir uma angústia terrível, não reconhecer a própria existência, não estar bem e tomar a decisão de seguir adiante para superar É UMA GRANDE COISA, portanto INCOERENTE.
Estar comigo há muitos meses com o pensamento nas outras e dizer que está mantendo compromisso é INCOERENTE.
Saber o que significa procurar as outras na sua vida e mesmo assim procurá-las é INCOERENTE.
Ser um escritor e não conseguir descrever um desabafo através do que escreve é INCOERENTE.
Ter um amor que nunca vai morrer e ainda ser o mais benéfico que já teve e dizer que é melhor que ele acabe é INCOERENTE.
E por fim, o que você chama de imposições eu chamo de escolhas e agora percebo e me sinto feliz por perceber que eu fiz as melhores escolhas possíveis.

Cresça!


Maysa Braga
Atendimento Publicitário
Goiânia - GO

Uma música escolhida



Por Gardene Leão de Castro Mendes
Assessora de Comunicação
Goiânia - GO

Uma carta-poema

Mon Cher,

Quão grande é meu amor por você. Jamais pensei que pudesse me entregar de forma tão plena. Uma vida repleta de alegrias e de pequenos instantes inesquecíveis. Assim foi estar com você. Você tem plena consciência da dificuldade de quebrar um coração de pedra. Você conseguiu. Eu me rendi aos seus encantos e não me arrependo de forma alguma de cada momento ao seu lado.
Já não é de hoje que venho percebendo que algo está diferente. O encantamento não é mais o mesmo. Admito minha culpa e perdôo a sua. A vida é uma continuidade sem fim de ciclos. O nosso ciclo se acaba, mas outros surgem. Aceito resignado a separação. Não encaro isso como o fim. Tudo que vivemos ficará em nós dois.

Eu em você
No bolo de chocolate
Na dança
Nas divas negras
Nos perfumes amadeirados
No encontro de pés ao dormir
Na televisão da madrugada

Você em mim
Nas palavras afiadas
No pão de mel
Nas conversas sem fim ao telefone
Na pimenta
Nos sapos
No banho de chuva

Sigo a vida. Tenho sede dela. Refresque-se na sua.
Que nossos caminhos se cruzem na felicidade.

Fernando Lage
Estudante de Letras

Goiânia/GO

Uma imagem

Célia Regina de OliveiraArte Educadora
Goiânia/GO

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Operários

Hoje, jogados pelas ruas de Goiânia, os operários de Tarsila.

Aguardando navios impossíveis

Dia desses, era 2044. Eu, com 70 anos, falava sobre o ausente, contava das tintas do passado. Caminhava pela casa que abrigava minhas obras, acarinhadas à luz que entrava entardecida pelas janelas.

Ao olhar pra fora, minhas calmarias pareciam preceder tempestade, faroleiro a aguardar navios impossíveis, sem chegadas. Abria o coração de fundas gavetas de onde escorriam lembranças em forma de cartas, cadernos de esboços, desenhos, estudos, agora, latentes de passado. Tudo era. Tudo tinha sido.

Pulsava em mim um coração entremeado de orgulhos e arrependimentos, sorrisos mudos, de tradução impossível. Pelos cantos, liam-se fragmentos que me pertenciam. O vinco vertical que escorria dos meus próprios olhos era medo do vazio. Era fundo o solitário espaço da criação. O singular do copo, do prato, da xícara, sem truques, sem rumores, sem amores. Só pudores.

Tonto pelo salpicamento de muitas perguntas, gritei para alguém me acordar!

Imagem: Wolney Fernandes

Sobre dragões

"Só quem já teve um dragão em casa pode saber como essa casa parece deserta depois que ele parte. Dunas, geleiras, estepes. Nunca mais reflexos esverdeados pelos cantos, nem perfume de ervas pelo ar, nunca mais fumaças coloridas ou formas como serpentes espreitando pelas frestas de portas entreabertas. Mais triste: nunca mais nenhuma vontade de ser feliz dentro da gente, mesmo que essa felicidade nos deixe com o coração disparado, mãos úmidas, olhos brilhantes e aquela fome incapaz de engolir qualquer coisa. A não ser o belo, que é de ver, não de mastigar, e por isso mesmo também uma forma de desconforto. No turvo seco de uma casa esvaziada da presença de um dragão, mesmo voltando a comer e a dormir normalmente, como fazem as pessoas banais, você não sabe mais se não seria preferível aquele pântano de antes, cheio de possibilidades - que não aconteciam, mas que importa? - a esta secura de agora. Quando tudo, sem ele, é nada.

Hoje, acho que sei. Um dragão vem e parte para que seu mundo cresça? Pergunto - porque não estou certo - coisas talvez um tanto primárias, como: um dragão vem e parte para que você aprenda a dor de não tê-lo, depois de ter alimentado a ilusão de possuí-lo? E para, quem sabe, que os humanos aprendam a forma de retê-lo, se ele um dia voltar?"


Trecho do texto "Os dragões não conhecem o paraíso" de Caio Fernando Abreu. Para ler o texto completo clique aqui.

Imagem capturada em http://aosugo.wordpress.com/alacarte/page/2/

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Guardador de Afetos

Uma dissertação escriturada e encadernada para guardar minha cartografia de afetos.

Imagem: Wolney Fernandes

Desafio 10

Desafiante da Semana: Wolney Fernandes

Tema:
Complete a frase: "No banheiro, ao me sentar, olho para frente e vejo..."

....................................................................................................

De Wolney Fernandes, Delírios de azulejos azuis.

....................................................................................................

De Adriano Antunes, Amor por Pontuação.

Pensas em mim (?)

Quando me sinto azulejo
Parede úmida de banheiro
Rejunte?

Quando meu hálito batiza o espelho
Com desenho a dedo de sorriso
Breve?

Pensas em mim (...)

Como água de torneira
Que limpa a sujeira
E pelo ralo se vai.

Ah... Pensas em mim (,)

Nas segundas-feiras
De domingos esquecidos
Em promessas de sábado.

Nada mais
(.)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Dúvida

Quando um homem morria, a pergunta feita pelos gregos era bem simples:
- Ele viveu com paixão?

Morto, sua vida e história responderão à questão. Mas ainda vivo, é preciso respondê-la cada dia.
Eu vivo com paixão?

Imagem: Wolney Fernandes

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Desafio 09



Desafiante da Semana: Adriano Antunes

Tema: "Se um homem atravessasse o Paraíso num sonho, e lhe dessem uma flor como prova de que lá estivera, se ao despertar encontrasse essa flor em sua mão... o que dizer então?"(Coleridge)

...................................................................................................

De Wolney Fernandes, Caminhos de Paradisíacas Realidades.


....................................................................................................
De Adriano Antunes, Inquietações.

Quando o sonho é promessa
Sou ditado de cozinha
Provérbios de jornal
Poesia de cordel
Pé de coelho.

Acordo frágil, ingênuo, recortando flores, cantando hinos.

Quando o sonho é ausência
Ando de pés descalços
Em pista de brita
Dedilhando teclas brancas, marfim
Piano de cauda, sem som.

Acordo mancha no canto úmido do quarto, silêncio.

Quando o sonho é dúvida
Procuro no lixo as chaves
De portas que nunca abri
Reciclo minha embalagem
Parto de cócoras.

Acordo zéfiro, sopro, brisa, ventania, olho de furacão.

Quando o sonho é pecado
Sinto desejos noturnos regados de suor
Maçãs mordidas e empilhadas ao lado da cama
Paraíso em lençol minimalista
Espasmos.

Acordo fogo, fogoso, fagulha, faísca, fogaréu de São João.

Mas quando o sonho é tempo
Os ponteiros giram ao contrário.

E nesses dias
Acordo argamassa, tijolo sem reboco, parede sem pintura.
(.)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Das alegrias do dia

Quando "alegria" é a palavra do dia, dou cambalhotas a todo instante.

Imagem: Wolney Fernandes