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sábado, 1 de dezembro de 2007

Caçador de Borboletas

Todos os dias tenho de manter a cabeça sadia nesse labirinto gigante, escapar da Hidra, do Leão, descer até o inferno e pegar a cabeça do cão de Hades, que pode ser a perda do horário do trabalho por causa do sono acumulado, a fome que cresce por entre meus poros porque não há tempo para almoçar algo melhor do que um sanduíche natural da cantina da Faculdade de Artes (com maionese no meio!?) ou tentar dar conta de todos os trabalhos da Engenho para cumprir a jornada de um dia inteiro que parece me levar como se fosse a eternidade.

Às vezes parte de mim uma vontade gigantesca de me ausentar. De tudo e todos. Ancorar o barco e talvez virar um simples caçador de borboletas, mas não sei por onde começar. Então faço alguns exercícios mentais e começo a olhar para fora e vejo os pés de flamboyants pegando fogo em cores laranja-quentes. Na avenida que cruzo todos os dias, olho no fundo do casarão ao lado da Catedral e diante de suas cores amarelo-pálidas imagino: quanta gente haverá vivido naquela casa, que talvez só se mantenha de pé por causa das lembranças que é capaz de causar.

E ainda há quem me venha falar de trabalho. Que trabalho maior existe do que não se deixar afogar por tanta informação? Há quem me venha falar em sucesso. Que sucesso, senão aquele de se manter lúcido? São tantos mares a serem navegados. Há tanto mar, tanto a navegar, mas o porto sempre parece sedutor. Não há espaço para o fracasso no porto, mas também não há espaço para pensar nem para sentir. Tudo me diz que é preciso seguir adiante. No entanto, preciso pelo menos acreditar que um dia poderei voltar e parar.
Caçar borboletas somente.

Imagem: Wolney Fernandes

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