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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Duas estampas

O final de semana foi todo com cheiro de tinta. O resultado foram duas imagens para estampar minhas camisetas exclusivas. Uma Madonna para o show de quinta-feira em São Paulo e um guarda-chuva surreal para celebrar as chuvas do lado de cá.


sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Calendário Musical

01. Janeiros - Roberta Sá
02. Alô Fevereiro - Roberta Sá
03. Águas de Março - Elis Regina
04. Maio - Kid Abelha
05. Agosto - Wilson Simoninha
06. Manhãs de Setembro - Vanusa
07. Tarde de Outubro - CPM 22
08. November Rain - Guns N'Roses
09. Dezembros - Zeca Baleiro e Fagner

Imagem capturada em http://www.tapedeck.org/index.php

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Carta de Amor

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor,
se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são Ridículas.

Álvaros de Campos

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Meu primeiro prefácio

Ontem foi o lançamento do livro "Cartas na Mesa" do meu amigo Rafael Vieira. Pela primeira vez, além da ilustração da capa, eu também assino o prefácio da obra. Nas palavras do autor, a idéia do livro surgiu à partir da leitura freqüente do meu blog e, mais especificamente, das minhas cartas à Sofia.

Por esta razão, o texto que elaborei para abrir/apresentar o livro foi também escrito em forma de carta que, diga-se de passagem, é meu estilo preferido de leitura/escrita. E só para responder à motivação feita pelo Rafael no "P.S." do livro:

- Sim, participar desse projeto tão bonito me impele a desengavetar meus textos e imagens. Quero que eles desabrochem de novo, de um outro jeito.... para lembrar o que vivi. Que sejam impressos em páginas de papel pólen para acumular estímulos e desdobrar novos sentidos. Obrigado pela belíssima motivação!

Senhoras e Senhores!
A seguir, o meu primeiro prefácio:

"Querida Sofia,

Não gosto da minha letra escrita de caneta preta no papel, da minha voz gravada, da minha imagem em fotografias. Mas sou fascinado pelo instante. Adoro a possibilidade de um agora sem dor e sem ruídos. Embora as últimas semanas tenham sido corridas, com muita coisa acontecendo, ainda teimo em arranjar tempo de olhar para o céu. E o céu acaba nos contando tantas coisas. Hoje mesmo saí antes das seis da tarde de casa. Céu azul, nuvens descuidadas. Em dias assim, vêm à cabeça pensamentos esquecidos. Vontade de retomar planos, juntar palavras de dentro e de fora, buscar simplicidades. Não temer as frases feitas nem os sentimentos desencontrados. Razão pela qual sempre me valho de tuas cartas para que as palavras também me motivem a sair do canto, largar a inércia e tentar mais.


Como quem não se sente mais sozinho em um mar de interrogações, quando te escrevo fico em paz, sereno e confortável por partilhar o que transborda em meu peito. É loucura, eu sei, mas os registros de minhas elaborações, por mais simples que pareçam, fazem-me sentir parte de uma grande conspiração que inclui até os seres mais inconstantes e duais como eu. Diante da escrita projetada no papel, minhas incertezas deixam de ser cabíveis e todas as respostas parecem desnecessárias, ao menos nesse instante.

O livro que acompanha estas palavras é meu modo de te agradecer. Nele você encontrará cartas escritas pelo Rafael. Lembra dele? Pois é, ele também sabe da minha predileção por esse tipo de escrita e por isso me presenteou com o livro que eu agora partilho contigo. Abrindo as gavetas de realidades guardadas nestas cartas, me deparei com esta vontade de mostrar as revelações, as conversas sinceras e os embates como resultado de uma experiência imersa em reflexões.

O endereçamento a trinta destinatários diferentes, torna a leitura ora leve, ora densa... Quando terminei fiquei me perguntando: Não é exatamente esse o movimento que conduz a vida? Afinal, contrastes e variações vão preenchendo nossa existência com um colorido especial, que nem desenho feito com a espontaneidade e a fluidez das tintas. Tristezas e alegrias se alternam, prenunciando o novo que enche de surpresas o nosso cotidiano.

É possível dizer que nestas páginas estão contidas as chaves para se entender o desenvolvimento da vida? Talvez não. No entanto, Sofia, colecionar as pequenas epifanias espalhadas pelas cartas demonstrou o grau de satisfação com o qual sigo nesse emaranhado de relações que compõem minha(s) realidade(s).

Por enquanto não posso dizer mais nada. Anseio, agora, por suas próprias impressões que, espero encontrar em sua próxima carta. Por aqui sigo tentando capturar meus instantes mais pueris naquela esperança menina de aproveitar do tempo só a simplicidade das coisas, de viver nele aquilo que for realmente significativo. De olhar o presente e lembrar de agradecer tudo.

Já se permitiu desejo assim, Sofia? Devias experimentar! Conselho de quem sempre engole um brilhante pedaço daquele sol da tardinha. É tão bom que sinto irradiando um pequeno chuveiro de chispas para dentro de cada partícula do meu corpo tentando colar todos os fragmentos e reunir minha história num único enredo: feliz, raro, meu de fato.

Devo nomear? Ou apenas sentir?
Beijos riscados de saudade.

Wolney.

Imagem: Capa do Livro elaborada por Rony Ribeiro com ilustração de Wolney Fernandes

Quando bebemos do próprio poço


Duas samaritanas para o 4º livro da coleção "Na trilha do Grupo".

Beirut

Beirut é o nome dessa banda genial que eu descobri esta semana. O estilo combina elementos sonoros do Leste Europeu e do Folk. O clip da música "Elephant Gun" é um dos melhores que eu já vi. Ao assistí-lo, sempre me vêm respostas possíveis para a seguinte pergunta: Como resolver todos os problemas apenas dançando com seus melhores amigos?

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

10 dias

Abotoei a bragrilha da calça com um movimento preciso e me virei em direção à saída do banheiro. Antes de atravessá-la pude ler algumas obscenidades escritas na porta com caneta Bic e saí distraído sem me dar conta da paisagem estranha que se esparramava diante dos meus olhos.

O lugar eu já conhecia, mas somente por fotos. A praça de cor de telha era mais ampla do que me parecia pelas imagens que me foram apresentadas, mas a catedral imponente que se levantava à minha frente, não deixava dúvidas: estava no sul, na cidade dos anjos.

Olhei de novo e do outro lado da praça, escondido pela penumbra de uma rua escura e estreita, um carro. Parecia um Ford KA, daqueles antigos de cor prata. Um vulto dentro do automóvel parecia o único sinal de que aquela cidade era habitada.

Fui caminhando até o veículo com passos lentos e à medida que me aproximava, o vulto foi tomando contornos mais definidos. Os cabelos loiros bem maiores do que me lembrava estavam soltos sem nenhum penteado como se a mulher tivesse saído do banho e, com movimentos bruscos, só tivesse enxugado os fios usando uma toalha. A pele muito branca fazia um contraste de tons etéreos com a escuridão da noite. Subitamente ela se vira e eu a reconheço quando ela coloca os dedos nos lábios pedindo pra eu fazer silêncio!

- Estou escondida! Não conte pra ninguém, por favor...

Diante da sua imagem e daquele pedido, dei um jeito de fazer minha surpresa e excitação encolherem até que coubessem numa caixinha de fósforos para então propor com um sussurro:

- Fica sossegada - Fiz uma pausa que deve ter durado uns 5 minutos e disse quase sem notar as palavras saindo da minha boca:

- Você é tudo o que dizem mesmo! (gagejei) errr.... hã.... Moro aqui perto e é bem tranquilo por lá. - De repente a paisagem ficou muito familiar e não tive medo de convidar: Não quer ir comigo? Não é seguro ficar aqui na escuridão.

Ela concordou com um sorriso e me pediu pra entrar no carro. Dei a volta e abri a porta do motorista sem acreditar: Estava levando a Madonna pra casa.

Quando bati a porta do carro, eu acordei!

Este sonho curioso é parte da excitação que tem tomado minhas noites nestes dias que antecedem o megashow "Sticky and Sweet" da Madonna em São Paulo. A contagem regressiva, iniciada em agosto deste ano, já está no final. Faltam 10 dias!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Traçados sinuosos

Querida Sofia,

Sempre te escrevo para registrar minhas imperfeições. Minha esperança é que você não se canse de escutá-las porque eu sigo falando delas, ora na tentativa de me cobrar, ora simplesmente tentando me vangloriar por ter a capacidade de constatá-las.

Eu tentei mudar quem eu sou uma série de vezes. Tentei me entregar menos às coisas, ser menos exigente comigo mesmo. Errei uma, duas, três, quatro, cem vezes... Continuo errando e, na esperança de obter certa compreensão do mundo, sempre me esforcei e me esforço. Maltrato-me! De cicatrizes internas meu corpo está cheio e meu ofício é escondê-las com tatuagens travestidas de sorrisos fáceis e compreensões superficiais.

Pensei que estava dando meus primeiros passos para a felicidade de agora e me vi novamente em profunda desorganização, inaptidão em lidar com as mudanças de planos. Por melhor que eu seja, por melhor que eu consiga, falta eu gostar desse meu lado inapto, pouco articulado.

E não, Sofia, não me venha com seus discursos para me convencer temporiamente do contrário. Por viver de extremos, encontro-me doente. Na mais pura das enfermidades diagnosticada pelo meu espelho e nomeada de frustração. A boa notícia é que, desta vez, eu já tenho também a cura. Ela provém de uma confiança que, em forma e conteúdo, me diz: sossega coração!

Longe está o tempo em que eu imaginava a linha do destino que atravessa minha mão como um desenho retilíneo. Afinal, a vida nunca esboça uma linha reta, mas ao contrário, vai riscando traçados sinuosos para que a gente não saiba mais onde pisar. Em tempos de quedas silenciosas só tenho pensado na beleza da recuperação.

Me ajuda a enxergá-la?
Beijos de sempre!

Wolney

Imagem: Wolney Fernandes

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Olho de Thundera

Camiseta com o Olho de Thundera dos Thundercats. Quem sabe agora eu consiga uma visão além do alcance.

Onde encontrar: Na Hocus Pocus da Av. Paranaíba, no Centro.

Distâncias

Eu aqui.
Você aí.
Você aqui.
Eu aí.
E juntos é muito bom!

Imagem capturada em http://www.videos.sailingcourse.com/distance_measurement.htm

Um amor quase perfeito

O Filme:
Um amor quase perfeito (Le Fate Ignoranti, Itália, 2001)

Sinopse:
Após o falecimento de seu marido, uma mulher descobre ao acaso uma dedicatória amorosa para o falecido. Determinada a encontrar esta amante, a viúva leva um susto. Antonia descobre que seu marido tinha outra vida, ao lado de outra pessoa.

Grande questão:
Em que momentos a vida passa do nosso lado e não conseguimos enxergá-la?

Detalhes preciosos:
1. O significado de um copo quebrado;
2. A figura de um padre entre os personagens na cena com a música "Gracias a la vida";
3. O jogo de sedução entre marido e mulher na cena inicial do filme.

Frase:
"Como somos tolos! Quantos convites recusados; Quantas palavras não ditas; Quanto olhares não retribuídos. Muitas vezes a vida passa ao nosso lado e a gente nem percebe.”

Música:
Birdenbire - Yasemin Sannino

Cena que adoro:
Aquela em que todos os personagens se reúnem para ouvir a música "Gracias a la vida". Clique aqui para ver.

Da chegada do Natal

"Na parede de um botequim em Madri, um cartaz avisa: Proibido Cantar!
Na parede do aeroporto do Rio de Janeiro, um aviso informa: É proibido brincar com os carrinhos porta-bagagem.
Ou seja: ainda existe gente que canta, ainda existe gente que brinca."
Eduardo Galeano
Por um Natal de cantorias e brincadeiras!
Foto: Wolney Fernandes

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Eu e a Chuva

Sem querer olhei pela janela e vi a chuva cair silenciosa. A paisagem conhecida, agora se mostrava encoberta por uma "brancura em forma de véu". O ritmo compassado dos pingos d'água me hipnotizou. Então eu saí com aquela vontade de que a chuva me cobrisse também. Talvez buscando um jeito de lavar minhas incoerências sem que fosse necessário fazer nada mais além do que caminhar. No meio da Avenida eu dei passos em câmera lenta sem ouvir ou ver quem me rodeava. Ali, erámos só eu e a chuva, naquela intimidade de arrepiar cada pedacinho de corpo desvelado. Ali, a água que me banhava era minha reza. Ali, eu era menino sem medos. Ali, eu e a chuva...

Imagem capturada em http://pamelaalvesc33.blogspot.com/2008/07/pictinary.html

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Angelus

Marca e cartaz para o espetáculo "Angelus" - Santo Ângelo/RS.

Em algum lugar

"- Não há medo mais curto. Na vida ou no amor a dor deve ser sentida. As alternativas são piores. A dor com que amamos é que nos faz especiais. Que nos faz bonitos... Mas essa dor é acompanhada de mais alguma coisa: a esperança. Com sua dor, há esperança! E é onde você está. Em algum lugar entre a agonia, o otimismo e a reza. E é isso que nós temos."

Do 15º episódio da primeira temporada de Brothers & Sisters.

Imagem capturada em http://brothers.and.sisters.free.fr

Amargo Novembro

Olhei para o calendário ao lado do computador e inventei um conto trágico, sem palavras, todo bordado na minha imaginação. Que gosto amargo este novembro tem deixado em mim. Os dias longe do blog completam uma tentativa de assimilar toda esta realidade que de repente me tira o ar.

Sufocado, perco as forças. Eu que já não sou tão forte assim, esmaeço em cores cinzas. A alegria menina se perde em meio ao caos que tomou conta do lado de cá. Procuro certezas dentro do poço escuro, na esperança de também retirar dali as forças que me façam chegar ao final deste mês sem me culpar pelas escolhas que fiz ao longo destes 34 anos.

Amargo novembro das pausas, dos planos virados pelo avesso, do abismo que completa o intervalo entre meus pés e os horizontes vislumbrados. Amargo novembro em que as moendas páram o giro do engenho, em que a despedida desenhada pelos gestos da Pocahontas sai do desenho e vem abraçar meu coração.

Enquanto for novembro permaneço sem forças. Abro a boca e só ouço um grito mudo:
- Cessem os novembros! Tragam-me os dezembros de chuva mansa na janela para colorir meus recomeços.

Imagem: Calendário do Pequeno Príncipe

Viração

Acabou de sair do forno a Revista Viração com desenho meu na capa.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Significados Ocultos

Querida Sofia,

Tenho vivido tempos de silêncios.
Neles, escondo fatos ritmados que compõem a coreografia dessa dança de melodia incompreensível que é a vida. Sei que há uma beleza escondida que me tocará revelando cores repletas de significados ocultos. No entanto, agora, não consigo enxergar nada. Preciso que minhas ousadias pulsantes se façam revolucionárias, pois o meu coração quer assim...
Prometo voltar logo!

Beijos!

Wolney

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Retratos em três tons

Para a Agenda da CAJU 2009, retratos divertidos em tons de vermelho, azul e amarelo. Novidades à vista!

terça-feira, 11 de novembro de 2008

sábado, 8 de novembro de 2008

Branco no preto ou preto no branco?

Estudo tipográfico para estampa de camiseta.

Mina e Lisa

Mina e Lisa é uma série de internet sobre o cotidiano e os dramas de duas adolescentes japonesas no Brasil. Abaixo, o primeiro dos 24 capítulos:

Vida sem amanhãs

Acordei com aquela vontade de uma vida sem amanhãs. Uma vida simples onde eu não precise mais festejar, em meio a fogos artificiais, todo o meu ano em um único dia. Uma vida de dias doces como brigadeiros e imprevisíveis como os bichos de algodão no céu.

Em dias assim, quando o tempo parece curto demais, escolho uma imagem e tento me dissolver nela. A escolha não é uma decisão consciente, talvez apenas uma tentativa de salvação. A salvação, para o meu alívio, não é monopólio das grandes religiões, nem das doutrinas criadas pelos homens, mas está oculta nos pequenos milagres que nos salvam todo dia.

Minha salvação de hoje é a "A ponte de Heráclito" de René Magritte (sempre ele!):

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Doce Novembro

O Filme:
Doce Novembro (Sweet November, EUA, 2001)

Grande questão:
Um mês é tempo suficiente para mudar toda uma vida?

Detalhes preciosos:
1. A cena do roubo com final surpreendente;
2. Os amigos travestidos da protagonista que ficaram famosos como Lex Luthor de Smallville e Lucius Malfoy de Harry Potter e a Câmara Secreta;
3. A lista de presentes que Nelson oferece a Sarah.

Frase:
“- Por que um mês?
- Porque é pouco tempo para se apaixonar, mas o suficiente para acontecer algo incrível.”

Música:
Wherever You Are - Celeste Prince

Cena que adoro:
A cena em que Nelson espalha calendários com o mês de novembro pela casa toda. Clique aqui para ver.

Frida no Celular

Frida Kahlo para colorir a tela do meu celular.

A imagem do fundo foi retirada do Diário de Frida Kahlo.

Sabor de Chocolate

Toda vez é assim! Basta apenas uma mordida no Galak (aquele chocolate branco que fez sucesso nos anos 80) para que a paisagem que me cerca seja substituída por imagens do passado com gostos, cheiros e sentimentos da minha infância.

O chocolate da Nestlé tem gosto das brincadeiras com minhas miniaturas pouco articuladas de heróis, todas ganhadas em promoções de refrigerantes e das raras idas ao supermercado com minha mãe onde eu ficava “namorando” a sessão de brinquedos. Com o nariz pra frente e as mãos cruzadas às costas (sempre fui um menino muito obediente) chegava pertinho daquelas caixas grandes e coloridas sonhando, um dia, ter um Ferrorama (trenzinho movido à pilha da Estrela), mas me contentando com os bichinhos de plástico que vinham junto com as promoções de margarina.

Penso que as limitações daquele período contribuíram para o enriquecimento de minha criatividade: uma lata de leite ninho cheia de tampinhas de garrafa era esconderijo secreto para tesouros valiosos; figurinhas de Ping Pong coladas umas nas outras viravam rolos de filme animado; pedacinhos de madeira eram as paredes da Sala de Justiça que abrigava um Super-Homem todo azul e uma Mulher Maravilha toda vermelha; cipós viravam corda pra pular; pedras roliças do rio viravam peças pra jogar “Baliza” e por aí vai...

Não sei explicar direito meu saudosismo em relação àquela fase da minha vida. Talvez porque todos os fragmentos de sonhos e as coisas que foram vividas lá atrás formam juntas esse viver adulto que ainda não se encontrou. Hoje, meu desejo é me (re)encantar diante das limitações, tranformando-as em possibilidades que me aproximem daquela paz gostosa com sabor de chocolate branco.

Uma imagem

O que me marcou na fala do Prof. Kevin Tavin, da Ohio State University, foi só(?) uma imagem que eu tentei copiar.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Saudade

"Desejo é memória do futuro."
Adélia Prado

Imagem: autoria secreta

Fortaleza da Solidão

Por trás de algumas nuvens, posso acompanhar o suicídio do sol. São oito horas (maldito horário de verão!). Um caderno de rabiscos, um bom tempo olhando a cidade pela janela, acompanhando as cores pásteis do entardecer. Na minha filosofia de alcova, meus rituais de solidão começam todos com pensamentos no amanhã.

Desapontado disfarço o sorriso sarcástico ao comparar meu quarto com a Fortaleza da Solidão (aquela do Super-Homem). Lugar onde minhas memórias podem ser descobertas. Lugar onde me encontro e me expresso. Lugar onde reina o isolamento, o distanciamento, o frio...

Perco-me entre os acordes da música que me motivou a escrever isso e sinto medo de terminar só. A cada dia descubro mais de mim mesmo. Rio sozinho ao confirmar minha total incapacidade pra ser um super-homem. As alegrias e as frustrações desse sentimento me vibram a carne. Maldito coração pulsante que enleia mais sentidos na tentativa de achar mais um pedaço do caminho.

Imagem capturada em http://misteridigital.files.wordpress.com/2007/09/fortress-of-solitude-superman.jpg

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Tou ouvindo!

01. Mariposa Traicionera - Maná
02. I Believe in you - Il Divo & Celine Dion
03. Escucha a tu corazón - Laura Pausini
04. Stigmatized - The Calling
05. L'Ombra del Gigante - Eros Ramazzotti
06. U want me 2 - Sarah McLachlan
07. Yo te voy Amar - N'Sync

Imagem capturada em http://www.tapedeck.org/master/

Habilidade em ressuscitar

Querida Sofia,

Sem perceber já chegamos em novembro. As lojas e a cidade já decoradas para receber o Natal, que a cada ano parece chegar mais cedo, e meu calendário do Pequeno Príncipe mostrando sua penúltima imagem. É, quando se está ocupado o tempo passa feito trem-bala. Tanto que pareço já estar às vésperas da Páscoa de 2009.

Ultimamente eu ando com uma bandeira branca no bolso, com a missão de fazer as pazes com meus caranguejos internos. Pelo mesmo motivo que decidi freqüentar as aulas chatas da academia para fazer as pazes com meu corpo: preservar o que ainda tenho e recuperar o que me falta, antes que eu morra por conta disso... Pois se morre de arrependimento e coração partido e de chateação também, como posso comprovar nas inúmeras mortes que tive e sigo tendo por aí. Quem diz que só se morre uma vez nunca leu aqueles versos de Elisa Lucinda que você me enviou há 5 anos atrás, lembra?

“A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção
de acordar vivo todo dia.

Há dores que sinceramente eu não resolvo
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas (...)"

A última semana foi atravessada por oscilações entre angústias e instantes de sossego. Conheço já aquela minha estranha mania de viver no futuro, me esquecendo que, para existir um amanhã, um hoje se faz presente. Para quem vê do lado de fora, minha vida parece calma, à meia-luz, com trilha sonora instrumental e um monte de possibilidades ao meu redor. Tudo calminho e teoricamente sem traumas, em resumo. Pode até ser, mas então por que é que a única parte do meu corpo que não exala preocupações, a esta altura, é o meu nariz? (e olha que hoje ele amanheceu com uma espinha enorme!). De resto, tudo está esticado ao limite!

Talvez seja a hora de colocar em prática aquela minha habilidade em ressuscitar. Há de se ver o lado bom das coisas - ou inventá-lo, se preciso. O que não é possível é ficar andando com a nuvem de preocupações na minha cabeça o tempo todo.

Hoje estou um chato! Desculpa pela carta-desabafo que também não diz muita coisa, mas é só o que tenho a dizer.

Abraços 'friorozos' (porque de calor, basta só o de Goiânia. Ufa!)
Wolney

Imagem: Wolney Fernandes

domingo, 2 de novembro de 2008

Disney de lápis de cor

Os porquês dos meus desenhos Disney pintados com lápis de cor:

1. Fantasia
Porque sempre quis fazer os desenhos se moverem.

2. Pinóquio
Porque foi o único desenho que meu pai fez pra mim.

3. Branca de Neve e os Sete Anões
Porque eu gostava mais da bruxa do que da princesa.

4. Alice no País das Maravilhas
Porque o quintal da minha casa era aquele lugar mágico.

5. A Dama e o Vagabundo
Porque cachorro é tudo de bom!

6. A Espada era a Lei
Porque na escola eu era como o pequeno Artur: tímido, franzino e servil.

7. Peter Pan
Porque sempre vivi na Terra do Nunca.

8. A Bela e a Fera
Porque nunca fui capaz de definir o belo.
9. Aladdin
Porque eu sempre quis ter meus desejos realizados.


Imagens: Desenhos feitos por mim com lápis de cor, lá no princípio da década de 90. E lá se vão mais de 15 anos.

Em 1933 e agora

Sossega, coração! Não desesperes!
Talvez um dia, para além dos dias,
Encontres o que queres porque o queres.
Então, livre de falsas nostalgias,
Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!
Pobre esperença a de existir somente!
Como quem passa a mão pelo cabelo
E em si mesmo se sente diferente,
Como faz mal ao sonho o concebê-lo!

Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa
02/8/1933

Imagem: Wolney Fernandes

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Lágrimas de aquarela

Ontem eu chorei.
Lágrimas me escapam com freqüência, mas eu quase nunca choro pra valer. Não é uma escolha consciente, algo que faça baseado em besteiras do tipo “homem não chora” e outros tabus. Todavia, o estopim de minha crise de choro foi a angústia de uma madrugada às claras. As impermanências desse solo movediço por onde caminho prenderam minha alma e uma rara inquietação revirou minhas entranhas...

Era tarde. De repente, com um movimento brusco, sentei-me na cama e desatei num choro descontrolado. Fui invadido por um sentimento doído, como se o último vínculo que eu tenho com minha infância estivesse para ser enterrado em poucas horas; Como se tudo que eu fui e sou estivesse com um prazo de validade etiquetado em um idioma por mim incompreensível. Chorei por antecipação por tudo o que eu não vivi e por tudo o que não vou viver. Pelo medo de ficar só. De terminar apenas meio e não inteiro.

As lágrimas me venceram. Choro quando não consigo mais racionalizar a minha dor, seja por insuficiência da própria razão, seja por entregar as armas cansado demais para lutar com esta minha teimosia. Muito das minhas dores acabo parcelando em silêncios, textos, imagens, conversas comigo mesmo e outros escapismos rasos e internos. Se a coisa toda for muito bem distribuída, o choro se perde no limbo das tristezas. O resto é liberado em lágrimas explosivas. E é justamente por isso que eu possuo crises de choro. Crises! Não é algo que eu consiga pressentir como a grande maioria. Isso deve ser um reflexo de como eu lido com tais situações. Se eu não consigo racionalizar algo, eu choro.

“Preciso chorar mais”.

Ocorreu-me agora que isso não deve ser algo que se trace como meta. Ontem eu chorei porque, dentre as milhões de palavras e sentimentos existentes do mundo, eu não fui capaz de encontrar uma sequer que pudesse me servir de consolo. Eu que sempre esperto, com tantos discursos lógicos e otimistas, não construí argumentos convincentes o suficiente para me impedir de concluir certas verdades sobre mim mesmo e minha vida.

Há de ser bom, de alguma forma, saber que chorar pode ser uma resposta válida para questões aparentemente sem alternativas. E sendo assim, aceito com um certo alívio o fato de que absolutamente nada está sob o meu controle: seja essa impermanência, as distâncias de dentro e de fora ou um pingo de aquarela sobre o papel.

Imagem retirada do "Diário de Frida Kahlo - Um íntimo auto-retrato".

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Par perfeito?

Quem todo dia de encantos me inebria.
Aqui, juntinho assim, perfume pra mim.

Foto: Wolney Fernandes

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Sr. Normal

A imagem que ilustra esse texto é Golconda de René Magritte, feita em 1953. Sempre achei que as pinturas dele tem o singular propósito de nos transportar para um universo simultaneamente poético e filosófico com todos os ingredientes de uma inquietação marota. Gosto também do que ele diz sobre a obra:

"Há aqui uma multidão de homens, homens diferentes. Quando pensamos numa multidão, contudo, não pensamos num indivíduo; do mesmo modo, estes homens estão vestidos de igual, tão simplesmente quanto possível, para sugerirem uma multidão... Golconda foi uma rica cidade da Índia, uma maravilha... Acho uma maravilha poder caminhar pelo céu na terra. Por outro lado, o chapéu de coco não constitui surpresa - é um artigo de complemento, nada original. O homem de chapéu de coco é o Sr. Normal, no seu anonimato. Eu também uso um; não tenho vontade de me destacar das massas."

Que obra de arte eu gostaria de ser?

Sempre que me faço esta pergunta, a imagem do Sr. Normal me vêm a cabeça. Gosto da possibilidade de caminhar pelo céu na terra e da expressão poética sugerida pelos homens que, apesar de comuns, são portadores de uma singularidade que o banal chapéu de coco, a meu ver, realça. Gosto também da idéia de uma normalidade destacada pela diferença, se acaso pudermos ver para além dos fatos iguais e da postura idêntica e estática.

Alguém se habilita?

No clipe abaixo, uma 'releitura' da obra, feita por Rufus Wainwright com a música "Across the Universe". Genial!

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Amor oferecido

Ultimamente, meu jeito de amar tem sido pauta de minhas inquietações, tamanha é minha pretensão em filosofar sobre o assunto. Como o amor brota em mim? Pelo caminho da sensatez ele nunca durou mais do que alguns meses. Amor necessário é horrível. Bom mesmo é aquele amor que brota da insensatez, dos punhados de vezes que você se enche de coragem para pular de precipícios sem medos.

O amor que brota em mim, ao outro pode parecer inconstante ou até mesmo paradoxal, uma vez que precisa de aconchegos pueris, de cotidianos renovados, de oferecimentos que se sobreponham a recebimentos.

Talvez eu ame assim, tentando oferecer minhas habilidades como extensão desse sentimento que ultrapassa minha razão. Quem sabe, eu ame assim, por temer a força das impermanências, pois para o meu coração, amor oferecido não cessa. Ele é amplo, vasto, total, abrangente...

Imagem: Wolney Fernandes

Minha janela

Houve um tempo em que minha janela se abria para uma rua de infinitos brinquedos. Misturado à sombra do Flamboyant, que teimava entrar pelo meu quarto, eu podia ver o rio lá embaixo e os cipós trançados aos pés de guiné no alicerce da casa. Do lado direito, sulcada entre pedras e matos rasteiros, uma trilha serpenteava até a próxima esquina. Com o cipó, eu fazia a corda de pular cantando. As peças pra jogar baliza eram pedrinhas robustas, selecionadas com o mesmo cuidado que um lavrador tem ao escolher as melhores sementes para o plantio. Nas idas para a casa da Vó, o 'trieiro' virava abismo onde eu tentava me equilibrar com um pé só para atravessá-lo sem medo de cair.

Houve um tempo em que minha janela se abria para o vazio ensolarado deixado pela ausência do pé de Flamboyant. As trilhas do abismo inventado já não permitiam a travessia de um garoto que carregava tantos medos. Duas dúzias de dúvidas se misturavam às pedras que só serviam para dificultar as descobertas solítárias de quem só tinha 13 anos.

Vivo um tempo em que minha janela se abre para horizontes de nuvens espessas. E se não há mais o pé de Flamboyant, eu o desenho. Com os cipós que atravessam os alicerces, eu tranço sonhos que transformam trilhas em estradas. Por vezes, abro minha janela para que ela descortine os desejos que trago escondidos aqui dentro e, assim, o mundo volta a ser aquela rua de infinitos brinquedos.

OBS.: Este texto nasceu depois que eu li o poema "A arte de ser feliz" da Cecília Meireles. Clique aqui para ler.

Imagem: Wolney Fernandes

Escritas desenhadas

Ando desenhando escritas e escrevendo imagens para o projeto de uma agenda escolar. Cruzamentos assim já são frutos de uma dissertação inacabada. Em breve, mais novidades!