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segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

2008 de Perigos

Deus, ao mar o perigo e o abismo deu.
Mas é nele que se reflete o céu.

Fernando Pessoa

Imagem: Wolney Fernandes

domingo, 30 de dezembro de 2007

Império dos Sentidos

Ver a cor da voz
Ouvir os gestos
Saborear os olhos
Sentir o perfume do toque
Tocar a alma

Imagem: Wolney Fernandes

sábado, 29 de dezembro de 2007

Bicho da Maçã

Hoje, entre uma arrumação e outra, consegui pintar o "bicho da maçã" na minha camiseta nova.
Qualquer hora acabo criando uma grife só de camisetas customizadas e esclusivas.

Imagem: Wolney Fernandes

Livros na Fila

A pilha cresce a cada dia.
Livros que ganhei ou que comprei vão se acumulando na mesinha ao lado da cama.
Quando terei tempo pra saborear cada um?

Imagem: Wolney Fernandes

Sinceridade Sacana

Ainda preso aos meus devaneios tento aos poucos fincar os meus pés de leve no chão... De leve mesmo, porque como já disse Chico a gente vai sonhando, pois sem isso 'ninguém segura esse rojão'. Eu pelo menos não. Umas coisas estão bem concretas e visíveis e outras... É imaginação! Risos. Gosto muito de imaginar, não posso negar.

Fiz umas descobertas interessantes sobre mim nesses últimos tempos. Descobri que eu preciso de atenção. Nunca tinha visto isso em mim. Não sei ainda se gosto ou não dessa descoberta. Acho que não é tão ruim assim porque não é 'venha a mim tudo e ao outro nada'. Foi só uma observação.

Essa é uma das tantas coisas que gosto nesse processo duro de crescimento e/ou envelhecimento. Começo a saber de verdade o que me agrada e o que não. Sem receios, sem vergonhas. Talvez uma sinceridade sacana, não sei, mas quando é pra verbalizar, não ando economizando linhas.

Imagem: minha sombra projetada na parede do meu quarto em um final de tarde.

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Women in Art

A idéia é tão simples e por isso é muito original. Um passeio por 500 anos da História da Arte ocidental através de retratos femininos.



Quem quiser conferir a lista completa dos artistas e das obras retratadas é só clicar aqui.

Natal de Descobertas

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

Alberto Caeiro

Imagem: Wolney Fernandes

sábado, 22 de dezembro de 2007

Teias cinematográficas

Gosto tanto de cinema que vira e mexe fico procurando por curiosidades, trailers e músicas de filmes que ainda estão pra chegar aqui ao Brasil. As motivações são bem variadas, mas todas elas são também meio inexplicáveis. O que me fez chegar no longa "Na natureza selvagem" (Into the wild, 2007) foi um cartaz que vi outro dia no shopping. A boa impressão que tive da peça gráfica (com meu olhar crítico) me fez procurar a imagem pelo Google. Daí começou uma teia de novas descobertas: o cartaz me levou à bela trilha sonora, que me levou a Eddie Vedder, que me levou ao Pearl Jam, que me levou ao trailer, que me trouxe essa vontade de escrever no blog sobre um filme que ainda nem vi.

Tenho imaginado que os desejos de liberdades múltiplas que andam rondando meus pensamentos desvairados sejam os fios que teceram esta rede.

Façam seus próprios julgamentos.



Paradoxo do Veneno

Outro dia, visitando o blog da filósofa Márcia Tiburi, encontrei um texto sobre o paradoxo do veneno. Filosófico e poético, como ela mesma descreve, o texto me deixou impactado quando o vi no Saia Justa pela primeira vez. Até hoje ainda não tinha entendido o porquê do impacto. Agora que fui envenenado por uma rosa (qualquer hora explico tudo), posso compreender melhor a força das palavras que reproduzo abaixo:

Veneno “Destruição substancial, essência da morte, caldo da corrupção, prejuízo, perversidade, água maligna, leite do diabo. Peçonha. Ao que nos pode destruir sempre podemos dar o nome de veneno. Veneno não é outra coisa do que o princípio destrutivo cuja natureza fluída vem corromper tudo o que é vivo, bom, belo e verdadeiro. Porém, quem olha o veneno como o mero mal, não entendeu o princípio da vida. A natureza ensina que o veneno é também proteção. Quem tem coragem de enfrentar o veneno? Assim como o bem e o mal se opõem eles também se complementam. A cura está contida no próprio princípio da doença. O bem é tão forte que pode estar escondido no fundo do mais substancial do mal... Mas aí é preciso método. Como fazer para combater o veneno? Qual o seu antídoto? O veneno metáfora da vida? Aquele que não vem da picada da serpente, mas das palavras humanas quando elas se tornam bote?”

Imagem: Wolney Fernandes

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Escadas para o Infinito

Gosto da idéia de uma escada onde não se pode ver o fim.
Esta, é parte de um desenho que eu produzi numa tarde atípica.

Imagem: Wolney Fernandes

Quarto-Lugar

Gosto da vista que tenho da janela do meu quarto. Nela, o luar que atravessa os prédios do centro de Goiânia, banha parte da minha cama com sua luz serena. Nas noites de lua, deixo persiana e janela abertas só pra ouvir o barulhinho da cidade adormecendo e poder enxergar o reflexo difuso que é projetado na parede ao lado da cama.
Gosto de imaginar meu quarto como lugar de descanso e de silêncios necessários. Mas minha alma paradoxal também o vê como meu mundo particular, onde tudo que gosto e preciso esteja ao alcance das mãos.

É curioso quando percebo que nos dias agitados, ao olhar para a bagunça que me cerca tenho a impressão que estou diante de um espelho. Funciona mais ou menos assim: Se o dia-a-dia é tranquilo ele fica arrumadinho, com tudo no lugar. Se o período é caótico ele fica revirado de ponta-cabeça. Nestes dias, tenho a impressão de que "A mulher com fita amarela" que fica encostada perto do violão, me olha de jeito diferente. Seu olhar de censura só não é maior porque ela é cria do Picasso, que adorava desmantelar as coisas para reorganizá-las de um jeito bem peculiar.

Hoje amanheci com uma vontade grande de fazer um exercício cubista aqui. Revirar tudo e organizar de forma diferente. Fiquei animado, mas adiei a decisão porque estou ainda muito cansado das correrias de final de ano e não pretendo passar o final de semana que antecede o Natal organizando livros, cds, dvds e roupas... Pensei no monitor novo do meu computador que vai chegar na semana que vem (o meu antigo pifou!) e usei-o como desculpa para adiar um pouco mais a faxina.

Enquanto escrevo, olho para a bancada perto da janela e imagino: aqui, papel se reproduz com a mesma velocidade que os coelhos. Coloco 5 folhas em um dia e no outro já são 10. Todas espalhadas entre os livros. Impressionante!

Imagem: Wolney Fernandes

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Agenda da CAJU


A agenda 2008 da CAJU ficou pronta e coloridíssima.
Fiz também papéis de parede com algumas das ilustrações para enfeitar os computadores por aí afora. Quem quiser pode baixá-los clicando aqui.
A ilustração da melancia é a mais popular de todas.
(E foi a que mais gostei também) hi, hi, hi, hi!

Receita de Taxista

Foi uma surpresa quando percebi que o motorista de táxi que tinha me trazido para a pousada na chegada era o mesmo que iria me levar ao aeroporto na partida. Do alto dos seus cinqüenta e poucos anos, tagarela como ele só, reclamou da chuva durante o trajeto: Já estamos em Novembro e não tem turista em Florianópolis. Tudo culpa dessa chuva que não pára. Desse jeito o verão não chega. Um absurdo!

Resmungando assim, ele me levou até a Pousada Edelweiss. O local parecia saído de um livro de contos de fadas europeu. De cara, lembrei-me da canção da Noviça Rebelde que tinha o mesmo nome. Fiquei curioso pra saber o que significava. Perguntei pra moça que me atendeu e ela revelou que era uma flor típica da Suíça, lar dos seus avós. A pousada ficava no final de uma ladeira tão íngreme que cheguei a gelar com a sensação de que o táxi não chegaria a alcançar o cume.

Três dias depois e a chuva não tinha parado, mas o humor do taxista era outro. Cumprimentou-me com um largo sorriso como se já fossemos velhos conhecidos. Todo solícito perguntou se tinha gostado da cidade. Na realidade não tive muito tempo pra aproveitar tudo o que a cidade me oferecia, mas respondi que sim sem revelar detalhes. Arrisquei dizer que voltaria com mais tempo no período de alta temporada e ele ficou todo satisfeito. Estiquei a conversa e perguntei há quanto tempo ele morava na cidade.- Moro aqui desde que nasci e amanhã faço 40 anos de casado.Cumprimentei pela data e fiz os comentários de praxe: “Casamento duradouro assim é raro hoje em dia”. Pra minha surpresa ele tirou os olhos da estrada e, enquanto passava a marcha, proferiu com veemência:- E eu tenho a receita!Sem entender muito bem, indaguei: Receita?- Sim, receita para um casamento durar. Veja só como é fácil: Primeiro você precisa encontrar a pessoa que está predestinada para você!Sorri, disfarçando o pensamento irônico que me passou pela cabeça: Como saber quem está predestinado pra mim? Será que acende uma luzinha pra sinalizar a pessoa eleita?- Pra funcionar, a mulher tem que cuidar da parte financeira da casa. Temos conta conjunta e nestes quarenta anos é sempre ela quem faz os pagamentos. Nunca precisei assinar um cheque.

Antes que eu pudesse elaborar qualquer pensamento a respeito da segunda fala, ele continuou: - E depois, a pessoa certa tem que ser como minha esposa!Novo sorriso interno e nova pergunta: Como assim?- Minha esposa não coloca nada fora. Se sobra arroz da janta, ela faz bolinho pro dia seguinte. Se sobra carne ela faz picadinho. O café que me custaria cinco reais na rua, ela me faz tomar em casa para economizar.

Acenei com a cabeça e não consegui esconder o riso que aflorou no canto da boca. Olhei pra fora para amenizar a risada que teimava em vir à tona e avistei o aeroporto. Pelo visto, o taxista nada percebeu, pois continuou todo eufórico a narrar as peripécias da esposa para economizar o suado dinheiro que ele colocava em casa. A esta altura eu já nem ouvia mais o que ele dizia. Minha cabeça já estava imaginando como iria iniciar esse texto aqui no blog.

Imagem capturada em http://butecodoedu.blogspot.com/2006_05_01_archive.html

Loucas significâncias

Para quem duvida dos poderes que me são dados quando publico um blog:

– Não sei o que você quer dizer com "glória" – Alice disse.
Humpty Dumpty sorriu com desdém.
– É óbvio que não sabe... até que eu lhe diga. Eu quis dizer: “Há um belo argumento infalível para você!”
– Mas “glória” não significa “um belo argumento infalível” – Alice objetou.
– Quando eu uso uma palavra, – Humpty Dumpty disse com certo desprezo – ela significa o que eu quiser que ela signifique... Nem mais nem menos.
– A questão é – disse Alice – se você pode fazer as palavras significarem tantas coisas diferentes.
– A questão é – disse Humpty Dumpty – quem será o chefe... E eis tudo.

Texto: Trecho do livro Alice através do Espelho de Lewis Carroll

Imagem: Cena de Alice no país das maravilhas dos Estúdios Disney que eu ousei reproduzir usando lápis de cor e caneca bic, há 15 anos atrás.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Carlos Drummond de Andrade

Imagem: Wolney Fernandes

domingo, 9 de dezembro de 2007

Um Hino ao Amor

Neste final de semana assisti o filme "Piaf - Um hino de amor". Confesso que ainda estou sob o efeito avassalador da interpretação estupenda de Marion Cotillard que vive uma Edith com todas as nuances possíveis. Seu corpo se transmuta em fragilidade e sua voz ecoa numa força que penetra nossas almas.

Sobre o filme, reproduzo abaixo o texto que o Walderes escreveu pra gente divulgar no blog da Engenho. Sobre a atriz, trago a foto dela acima para uma breve comparação em termos de caracterização. Fantástica!

"O corpo curvo que se contorce sugere a fragilidade do capim que se verga ao vento, mesmo quando suave. Até que a boca se abre e a vida, em fúria, se expressa toda lâmina, doçura e aridez. A Piaf de Hollywood é menos que a Piaf de Bibi Ferreira e muito menos que a Piaf de Edith, mas não é filme que alguém possa deixar de ver sem lamentar depois. E ver, de preferência, antes que ele vire DVD, exibido em telas minguadas, cercadas de excessiva luz e abundantes badulaques de estantes. “Piaf - Um hino de amor" merece tempo e espaço exclusivos, como aquele que só o escuro do cinema cria. Destaque para Marion Cotillard, cuja interpretação convincente nos leva da juventude à decrepitude sempre intensas de Piaf. Oscar à vista!"

sábado, 8 de dezembro de 2007

Contos de Fadas

A famosa fotógrafa Annie Leibovitz foi chamada pela Disney para fazer um ensaio comemorativo transformando celebridades internacionais em personagens clássicos e recriando momentos dos longas. No elenco: Beyoncé Knowles aparece como “Alice no país das Maravilhas”, David Beckham é o Príncipe Felipe do longa “A Bela Adormecida”, Rachel Weisz como "Branca de Neve” e outros mais que você pode baixar clicando Aqui!.
O meu preferido é o da Scarlett Johansson vivendo "Cinderela".

Chuva no carro

Na hora da chuva de ontem eu estava dentro do carro e lá fiquei.
Quietinho.
Parado.
Olhei o pára-brisa molhado e lembrei-me de uma historinha antiga do Chico Bento onde ele olhava a chuva da janela e dizia:
- Tão bunita essa chuva. Gostoso ficá oiando...

Imagem: Wolney Fernandes

Para todos os gostos e estilos

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Olhos vestidos de Rosa

Prólogo
Os passos largos e ligeiros indicavam o atraso para o evento. Na porta do auditório, os olhos vasculharam rapidamente o ambiente a procura de um lugar pra sentar. Enxergou, do lado esquerdo, uma fileira de cadeiras com apenas duas pessoas.
Passou por elas e sentou-se na última, bem pertinho da parede. As pessoas que iriam conduzir a discussão ainda estavam tentando fazer funcionar uma apresentação no computador.
Respirou fundo. Um respiro de alívio, destes que fazem o coração acalmar e o ânimo se aquietar. Só então pôde olhar à sua volta. Depois de vasculhar o ambiente, deteve-se nos olhos miudinhos, mas intensos que olhavam em sua direção de maneira diferente. Por alguns segundos resolveu encará-los, mas virou o rosto pra tirar o caderno de anotações da pasta, que trazia entre suas coisas, ainda sem ter certeza da intenção daquele olhar misterioso.

Tomo 1
Da porta da sala dava pra enxergar todo o corredor. As paredes recobertas com cartazes e trabalhos manuais faziam o ambiente ficar ainda mais carregado. Sua sala era a última, mas dava para enxergar a primeira. Lá estava o mesmo olhar, agora não tão desconhecido, mas distante e tão tímido como o seu próprio. Andou vagarosamente pelo corredor fingindo olhar os cartazes só pra chegar mais perto, mas seu jeito introvertido não permitia sequer, trocar um "oi". No entanto, dali de onde estava já dava para ver a covinha que acompanhava aqueles pequenos olhos e, vez por outra, se desenhava do lado esquerdo do rosto.

Tomo 2
Ao descer as escadas viu que uma chuva quieta e constante deixava a paisagem desconhecida meio incolor. Com passos rápidos resolveu vencer a timidez e se aproximar pra uma conversa que, de início pareceu banal, mas foi ficando consistente à medida que caminhavam juntos debaixo do mesmo guarda-chuva. Semelhanças foram estabelecidas, apresentações feitas, cumplicidades partilhadas e novos olhares trocados seguidos por risos contidos de mútuo encantamento. Olhos admirados e elogiados. Camiseta rosa. Cheiro bom. Sorriso de luz.

Tomo 3
O início da noite já se desenhava lá fora. Dentro da lanchonete, o chocolate perdia o sabor à medida que o tempo ia se esvaindo trazendo aquela sensação de impotência. Raros minutos de doce cumplicidade tornaram-se mais intensos na breve despedida. Os olhares não mais se cruzariam e a covinha seria apenas uma lembrança dúbia: ela se formava no lado direito ou no lado esquerdo do rosto?

Tomo 4
Sentado diante da tela do notebook, a imagem da camiseta rosa era sempre a primeira coisa a invadir suas lembranças e pensamentos. 31 dias. Os pensamentos rasgavam e as palavras cortavam. Às vezes nem era preciso pensar, nem ler. Bastava supor. A mutilação acontecia sem que as lâminas tivessem sido postas à mesa. A "alma dúbia" foi, aos poucos, arremessada para o infinito. Em seu lugar apenas o destino para traçar novos olhares e (im)possibilidades. Sobre isso não tinha nada a falar nem supor. Era apenas um pensamento que rasgava e palavras que, escritas, faziam sangrar os dedos.

Epílogo
O olhar que lançou pela janela alcançou a lua. Suspirou buscando para si aquela mesma sensação de calma e quietude.

sábado, 1 de dezembro de 2007

Natal no 1005

O espírito do natal bateu à porta de casa hoje cedo.
Resolvi atender.
Ele entrou e foi logo se abancando com aquele ar de quem vai ficar por vários dias.
Fazer o que, né?

Imagem: Wolney Fernandes

Caçador de Borboletas

Todos os dias tenho de manter a cabeça sadia nesse labirinto gigante, escapar da Hidra, do Leão, descer até o inferno e pegar a cabeça do cão de Hades, que pode ser a perda do horário do trabalho por causa do sono acumulado, a fome que cresce por entre meus poros porque não há tempo para almoçar algo melhor do que um sanduíche natural da cantina da Faculdade de Artes (com maionese no meio!?) ou tentar dar conta de todos os trabalhos da Engenho para cumprir a jornada de um dia inteiro que parece me levar como se fosse a eternidade.

Às vezes parte de mim uma vontade gigantesca de me ausentar. De tudo e todos. Ancorar o barco e talvez virar um simples caçador de borboletas, mas não sei por onde começar. Então faço alguns exercícios mentais e começo a olhar para fora e vejo os pés de flamboyants pegando fogo em cores laranja-quentes. Na avenida que cruzo todos os dias, olho no fundo do casarão ao lado da Catedral e diante de suas cores amarelo-pálidas imagino: quanta gente haverá vivido naquela casa, que talvez só se mantenha de pé por causa das lembranças que é capaz de causar.

E ainda há quem me venha falar de trabalho. Que trabalho maior existe do que não se deixar afogar por tanta informação? Há quem me venha falar em sucesso. Que sucesso, senão aquele de se manter lúcido? São tantos mares a serem navegados. Há tanto mar, tanto a navegar, mas o porto sempre parece sedutor. Não há espaço para o fracasso no porto, mas também não há espaço para pensar nem para sentir. Tudo me diz que é preciso seguir adiante. No entanto, preciso pelo menos acreditar que um dia poderei voltar e parar.
Caçar borboletas somente.

Imagem: Wolney Fernandes

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Por causa da Felicidade

Esta ilustração eu fiz para a agenda 2008 da CAJU que ainda estou desenvolvendo. O tema é "Por causa da Felicidade". A imagem acima é para o mês da Liberdade.

Imagem: Wolney Fernandes

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Quarta semana de novembro

Três músicas da semana:
1ª. Ride - Cary Brothers
2ª. Esquadros - Adriana Calcanhoto
3ª. Marinheira - Nara Leão

Imagem capturada em http://www.tapedeck.org/index.php

Sonhos Guardados

Eu vivo sempre guardando coisas que me são preciosas. E não são apenas cartas ou figurinhas, mas principalmente desejos e lembranças. Eu as guardo, mas elas nem sempre permanecem escondidas ou organizadas como eu imaginei, pois estão sempre vindo à tona para lembrar o que é necessário recordar. Talvez não as memórias e as pessoas, mas os sentidos e as relações provocadas por elas.

Memórias assim são coisas que não podem ser expurgadas porque são as chaves que possibilitam o recomeço, a ressignificação, a volta...

O único momento do meu dia em que tudo isso parece claro são as noites. Nelas, só restam as saudades de pessoas e fatos que já vivi. Nelas, vale a pena deixar rolar as lágrimas em cacho a engravidar meus risos. Nelas, me encontro com os lugares perdidos de manhã e nunca mais anoitecidos. Assim, os cheiros embalados nos braços persistentes da memória vão revelando desamores maiores que os amores que me atam.

Nestes instantes só vale a pena falar do que fui, andei e sofri. Só devo calar e guardar o que sonho.

Imagem: Wolney Fernandes

sábado, 24 de novembro de 2007

Esquadros

"Eu ando pelo mundo prestando atenção em cores que não sei o nome..." 
[Adriana Calcanhoto]


Imagem: Wolney Fernandes

Meu quintal de possibilidades

Sempre imaginei o quintal da minha casa em Lagolândia como um lugar onde tudo era possível. Dos pés de jabuticaba ao buraco de terra nas raízes na mangueira existia um mar de possibilidades que se mostrava sempre novo a cada dia. Era delicioso quando minha vó varria as folhas e pedras debaixo do pé de manga bahia e fazia resplandecer aquele chão de terra batida. As brincadeiras com minha irmã, meus primos e amigos começavam e terminavam naquele espaço de sombra abundante. Os lanches, quase sempre regados a frutas colhidas no próprio quintal, eram feitos ali. As iguarias por nós elegidas iam de balinhas de tamarindo, com sal no lugar das sementes, a tomates docinhos que a gente colhia na horta. Outubro e novembro eram os meses que tinhamos todas as frutas da estação ao alcance das mãos: caju, manga, jabuticaba, ata, abacate, goiaba, etc...

Quando ventava, o espaço debaixo da mangueira virava meu campo de batalha porque as mangas mais rosadas e amarelas caíam como chuva e eu corria pra dar conta de colher o máximo que pudesse sem me deixar ser atingido por uma manga-míssil. Os 3 pés de jabuticaba eram classificados como pezão e pezinhos. No pezão, onde colhíamos as jabuticabas mais graúdas, acontecia as brincaderias de casinha e cada galho virava um cômodo da casa. O balanço, feito de corda de sisal era amarrado no abacateiro e quando meu pai ia nos balançar eu tinha a sensação que podia voar...

Embora bem menor do que a imagem que eu trazia comigo, hoje, cada árvore e canto daquele quintal traz uma lembrança boa. Tenho certeza que, daqui a muitos anos, quando estiver passando por lá, vou poder olhar cada pedaçinho daquele chão e dizer: eu estou aqui, ali, lá e acolá. Veja como eu sou feliz.

Imagem: Wolney Fernandes

Reinvenções

Reinventando o universo de Santa Dica para dar sentido ao meu mundo particular.

Imagem: Wolney Fernandes

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Presente de Ano Novo



"As estrelas são todas iluminadas. Será que elas brilham para que cada um possa encontrar a sua?"
Antoine de Saint-Exupéry
Meu presente de ano novo já está aqui. Um calendário do Pequeno Príncipe com as famosas frases e ilustrações do livro. Adorei!

domingo, 18 de novembro de 2007

Fascinação por Nara Leão

Minha doce fascinação por Nara Leão nasceu por acaso. Numa visita ao site do estilista mineiro Ronaldo Fraga me deparei com um texto que é uma verdadeira declaração de amor à cantora. Fiquei curioso. Por que usá-la como ponto de partida para criar uma coleção inteira?

Comecei ouvir a discografia de Nara e bastaram algumas canções para me encantar pela voz serena da moça. Os discos das décadas de 60 e 70 são os melhores, com destaque para "Meu primeiro amor" de 1975. Sua trajetória mostrou-me uma Nara insinuante, delicada e tênue com o canto impregnado de doçura e resistência.

Minha voz se junta a voz de Ronaldo pra dizer: Que falta ela nos faz!




Ilustração: Ronaldo Fraga

Lápis Divertidos

Encontrei lápis divertidos na Papelaria do Estudante da Rua 04 no Centro. Nem dá vontade de usar, só de colecionar. Tem pra todos os gostos e custa R$ 3,50 cada.

Ilustrações da Semana

As seis primeiras ilustrações para a Agenda da Rede Educacional Franciscana 2008 já prontas. Agora só faltam mais seis. Ufa!

=

Cena de Aeroporto

Ela
Morena, ciente de sua beleza. Alta e de coxas grossas usa uma saia provocante que deixa sua silhueta mais esguia em cima de sapatos plataforma com motivos tropicais. Os cabelos castanhos na altura dos ombros tem mechas claras e está liso para a ocasião. Os óculos escuros escondem seus olhos. De pernas cruzadas folheia uma revista displicentemente. Entre uma página e outra passa a mão pelos cabelos e vasculha o saguão do aeroporto com o olhar. Está sentada na poltrona ao meu lado. O que nos separa é sua bolsa marrom com detalhes dourados.

Ele
Moreno alto. Ombros largos e gingado no caminhar. O boné deixa à mostra só uma pequena parte dos cabelos curtos, mas ondulados. Os fios brancos não condizem com a idade que aparenta ter. Usa calça jeans justa e traz no pulso uma pulseira feita com linhas verdes. Na mão, um copo de Coca-cola com canudinho esconde a bebida alcólica que ele bebe em goles curtos e esporádicos. Os óculos, também escuros recobrem seus olhos.

De forma gaiata ele chega do lado da moça e pergunta se pode sentar-se ali. A permissão é dada então ele se joga na cadeira e escorrega bem à vontade até achar uma posição confortável.
- Marcelo. Muito prazer! - Ele se apresenta virando o rosto e estendendo a mão.
A moça retribui o gesto e diz sorrindo:
- Renata.
Ele sorri e dá um beijo na mão dela:
- Renatinha você é minha salvação.
Ela sem entender direito, reposiciona-se na poltrona, abandona a revista e pergunta mexendo os cabelos:
- Posso saber por que?
Quase que automaticamente ele coloca o rosto bem próximo ao dela e sussurra algo inaudível no ouvido da moça. Ela dá uma gargalhada jogando a cabeça para trás e em seguida mostra a aliança reluzente que traz na mão esquerda.
- Sou casada.
Ele faz um gesto de quem foi apunhalado no coração, sorri e diz não acreditar. Ela reforça:
- Sou casada há oito anos.

Quando ela sorri, ele, de supetão, pede um beijo. Ela levanta os óculos revelando um olhar bem sarcástico e diz não. Ele insiste, ela pega a bolsa do meu lado e sai dizendo que precisa ir ao banheiro.
O moço bebe um gole da bebida com um sorriso no canto dos lábios enquanto ela sai desfilando ciente de que todos os olhares masculinos a acompanham. Quando sai do banheiro, senta-se do outro lado do saguão de costas para o rapaz que parece não se importar com o gesto.

Neste exato momento meu estômago reclama e resolvo procurar algo para comer. Saio sorrindo comigo mesmo da cena que acabei de assistir. Ela foi ótima, penso com meus botões.
No vôo, depois de quase 4 horas a espera do avião para Goiânia me esqueço do casal e quase levo um susto quando, ao retornar do banheiro, vejo os dois no "maior amasso" numa das poltronas da frente da aeronave. Balanço a cabeça e sigo para meu lugar um pouco desanimado com a cena que acabei de presenciar. O meu desapontamento com o comportamento dos dois revela meu olhar estreito (antiquado?) ao lidar com o assunto. Não sei. Coloco o cinto de segurança e olho pela janela. Uma nuvem não me deixa enxergar mais nada. Fecho os olhos e adormeço inquieto.

Imagem capturada em: http://share.skype.com/sites/brasil/images/cancelados.jpg

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Anjo de Florianópolis

Esse anjinho eu ganhei do Alexandre que trouxe lá de Florianópolis. Ele é um detalhe da pintura feita na Capela de Nossa Sra. das Necessidades.

Pé de Flamboyant

Ali era uma ladeira. Mais pra frente, uma casa. Para trás ficava a escola. Do outro lado morava a Maria do Bugi. Por aqui passava uma rua larga. No meio da rua, mas bem no meio mesmo, tinha um pé de flamboyant bem grande que jogava sua sombra pra dentro da casa.

Eu me empoleirava no tronco negro e robusto cheio de nós. Era de lá que a vista alcançava as águas esmeraldas do Rio do Peixe. De lá de cima os olhos perseguiam cada pedaço da paisagem. Era bonito ver o sol salpicado no chão de tijolos quadrados da sala de casa. Era dali que as trilhas nos morros pareciam barbante jogado ao acaso.

No espaço entre um galho e outro meus pés se misturavam ao monte de folhinhas caídas ali desde a última seca. O vento balançava as flores que explodiam em nuances laranja, tecendo um movimento que me enchia de coragem. O princípio do movimento valia para a intensidade do sol e para o aumento do batimento cardíaco que sentia na garganta e não no peito de menino.

A vontade de voar eu recebia do mundo, mas o mundo não sabia da minha intenção. O guarda- chuva quebrado era minha asa. Naquele momento que antecedia o vôo eu ganhava a imortalidade e perdia o medo que tinha do vento me levar direto para as raízes retorcidas do flamboyant. De olhos fechados me lançava... e por instantes voava... mesmo com um tempo limitado, que embora constante e inegável, era irresistível.

Imagem: Wolney Fernandes

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Tempo marcado



O tempo vai deixando marcas enquanto a vida passa.


Vídeo produzido na disciplina "Tópicos Especiais em Imagem e Tecnologia: Novas Mídias" sob a orientação da profª Chantal DuPont e do artista Romeo Gongorra.

Caixa de Música

A idéia é mostrar, semanalmente, 3 músicas que embalaram meus dias. Assim, ao longo do tempo vou ter a trilha sonora desses instantes possíveis. Não dá pra sobreviver sem uma boa música. Trabalhar, estudar, dirigir, adormecer e acordar ficam mais interessantes se tiverem como pano de fundo uma boa seleção musical. Comigo é assim, música pra todo lado, em todo canto e a qualquer hora.Como ainda não sei postar o áudio no blog, vou me contentar em só listar os nomes das canções. Pra ilustrar vou usar imagens bem nostálgicas destas fitas-cassete (lembram?). O site tapedeck tem um montão de imagens delas, de várias marcas e muitos modelos.Só de olhar já sinto saudades das noites que ficava ouvindo a rádio São Carlos FM, esperando passar “aquela” música para gravar. Bons tempos!

Três músicas da semana:
1. O Barquinho – Nara Leão
2. Carry you home – James Blunt
3. 30.000 pés – Pato Fu

Imagem capturada em http://www.tapedeck.org/index.php

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Viagem Insólita

Meia hora depois que partimos de Goiânia me ajeitei na poltrona do ônibus, coloquei Nara Leão pra tocar no meu mp3 player e fechei os olhos. Pronto! – Pensei com meus botões – se depender do meu cansaço, só acordo em Florianópolis.Infelizmente não foi bem assim.

Meu otimismo latente sempre me engana nestas situações. Em uma viagem de 24 horas em um ônibus com 46 universitários da Faculdade de Artes Visuais o que eu menos poderia esperar era sossego. Eu até já imaginava uma bagunça e hesitei antes de me inscrever na viagem, porém o fato de não pagar nada falou mais alto.

Ao conhecer a coordenadora da viagem fiquei mais sossegado. No alto dos seus quarenta e tantos anos, com um filho de vinte e poucos, se apresentava bem articulada e com conhecimento de causa para lidar com um bando de jovens eufóricos para chegar ao congresso. Nesse caso específico é preciso entender que, para a maioria dos passageiros, congresso=praia.Relaxei. Ao som da voz doce de Nara, adormeci.

Acordei de supetão com a coordenadora da viagem sacudindo uma lata de cerveja na minha frente, rindo a toa e dizendo: “Molha os dentes aí! (molhar dentes!?). No susto, recusei e antes de me dar conta da situação direito ela gritou pra todo mundo ouvir: “O pessoal aqui bebe remédio controlado! Quem tem um Gardenal aí pra eles?”.

O “pessoal” a que ela se referia éramos eu e minha colega de mestrado que embarcou comigo nesta viagem insólita para um congresso onde iríamos apresentar nossos artigos.Aquele anúncio da nossa caretice pro ônibus inteiro me fez tomar pé da real situação. Do meio até o final do veículo rolava uma espécie de festa regada à cerveja, música alta e performances. Um aluno com os shorts enrolados na cueca dançava no cilindro que servia de suporte para a descida da escadinha enquanto três fotógrafas faziam o registro da cena peculiar.Na TV, ao invés do filme de ação (não me façam lembrar o nome) que arbitrariamente foi colocado pra passar o tempo, vi a Gretchen em seu filme pornô “La Conga”. Sim, aquela mesma Gretchen que foi presa fazendo boca-de-urna em Senador Canedo nas ultimas eleições.Nem Dante descreveria essa visão do inferno com tamanho realismo. Imaginem a Sra. Gretchen, com aquela boca que não fecha mais de tanta plástica, nua, rebolando e cantando “La Conga” em cima de um cara pelado.

Sob protestos, alguém teve o bom senso de tirar o filme e quando estava me recuperando daquela imagem que vai povoar meus pesadelos de agora em diante, ouvi um grito de uma louca que, sentada na poltrona atrás da minha, cantava: “Galopeeeeeeeeeiiiiiiiiiiiraaaaaaaa...”Essa era a única parte da música que ela sabia e repetia da forma mais esganiçada possível. Olhei pra ela e tive pena do namorado que a acompanhava. No mínimo ele já estava sem tímpanos. Coitado! Não esboçava reação nenhuma diante dos gritos da amada. Na última “Galopeira” tive a impressão de ver uma amídala dela sendo lançada até a cabine do motorista.Foi então que a coordenadora (tenho que rever meus conceitos sobre coordenação) mandou aumentar o volume do DVD que, agora, substituía o da Gretchen. Tive que me segurar para não lançar-me janela afora quando vi Gino e Geno cantando e pulando como duas paquitas loucas. E pensar que meu avô tinha um disco dessa dupla, há novecentos e cinqüenta anos atrás. Quem ressuscitou esses dois?

Minha sorte foi a parada para o almoço. O auê foi interrompido e o povo sossegou um pouco.Desisti do meu mp3 até porque minha cabeça já não agüentava mais ouvir nada. Lancei mão da Revista Trip que estava na mochila, mas não passei do editorial e logo adormeci. De supetão, acordei novamente com a “bendita” coordenadora com uma marmitex cheia de torresmo na minha frente. A sensação de “deja vu” indicou que desta vez deveria aceitar para não correr o risco de me ver exposto novamente a comentários nada sutis. Devo confessar que estava bem gostoso. Então tracei um plano para prosseguir dormindo apesar da “Festa - parte 2” que se anunciava. Minha fraca resistência a bebida poderia ser bem útil. “Bebo e desmaio, daí não vejo nem ouço nada”. Pensei.

Meu plano começaria na parada para o jantar. Já eram quase 22 horas quando paramos num posto para comer. Minha cabeça ainda doía, mas percebi que o pessoal estava mais tranqüilo. Talvez a calmaria fosse conseqüência da fome. Ao terminar o jantar, desisti do plano da bebida. Meu otimismo (também preciso rever isso) me fez intuir que após a janta, todos, já cansados, iriam dormir de imediato como foi no almoço.

Qual não foi minha surpresa quando já no ônibus, alguém grita assim:- Bota a Gretchen! Vamos ver a “conga” da Gretchen!Nem vi direito quando pulei da poltrona e argumentei: Gente! Chega de TV por hoje! Pra minha surpresa, ganhei vários adeptos que também protestaram contra a Conga da Gretchen. Realmente, a experiência tinha sido traumática para muitos.Então a coordenadora, que nesta hora passou de “bendita” para “maldita” pulou na frente do aparelho e lançou mão de um DVD de Edson e Hudson pra animar o povo e não deixar ninguém dormir. O desespero sobre mim se abateu. Já tinha aberto mão do plano da bebida e nem sequer tinha um plano B na manga. De repente o DVD parou na metade da primeira música. Vibrei! Resolvi apelar pro vodu, mau-olhado, mandinga e tudo o mais que pudesse impedir aquele troço de funcionar. Deu certo. Nem sob as preces dos adeptos o disco pirata não rodava.Pensar que meu mal-olhado tinha funcionado foi um alívio pra minha dor de cabeça e isso me acalmou.

Quando ia me ajeitar pro sono da madrugada uma voz do além lembrou: “O fulano trouxe violão”. Gelei. Ao vivo poderia ser pior. Ainda mais se a moça com uma amídala só resolvesse chamar a Galopeira de volta.Surpreendentemente, a seresta não foi ruim. O moço do violão era afinadinho e o repertório era bem eclético. Até arrisquei cantarolar junto no “todo mundo”. Depois de uns 40 minutos de cantoria começou uma chuva fina e a temperatura baixou. Estávamos entrando no estado do Paraná. Isso fez a turma se aquietar. Luzes apagadas, me ajeitei na poltrona e quando já estava quase adormecendo escuto Ave-Maria de Schubert sendo cantarolada em tom clássico por alguém que resolveu balbuciar além desta, outras canções de repertório erudito. Vai entender...

Esbocei um sorriso bem particular sem conseguir conter o sono e pensei sem deixar meu otimismo vibrar: “Amanhã tem mais”.

Imagem: 'The Black Demon' de Salvador Dali ilustrando a Divina Comédia.

Lavras e Louvores

Quem ainda não visitou a exposição Lavras e Louvores no Museu Antropológico da UFG precisa ir correndo dar uma olhada. A mostra conta nossa região de forma não linear, refutando o mito reducionista do desenvolvimento da modernidade sobre o sertão.
Imagens e textualidades são organizadas pelo viéis do trabalho e da religiosidade permitindo deslocamentos e construções de novas relações. É impossível não se enxergar em detalhes minuciosos de elementos do dia-a-dia.

Poética, com uma vontade de celebrar as micro-narrativas, a exposição se fortalece naquilo que de mais simples compõe nosso cotidiano. Vale a pena conferir.

Exposição Lavras e Louvores
Museu Antropológico da UFG
Praça Universitária, St. Universitário, Goiânia - GO
Horário de funcionamento:
De terça a sexta-feira, das 9 ás 17 h

Imagem: Wolney Fernandes

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Era uma vez um pôster

Os esboços e resultado final do pôster que produzi para minha pesquisa sobre Santa Dica mostram meu esforço para aproximar o estilo da peça ao das bandeiras das folias e mastros das festas populares. Claro que tive ajuda preciosa da Rosi para pintar e bordar as cores e os traços do estandarte. A Rosi Martins, amiga de sempre, é atriz pesquisadora nesta área e tem um trabalho excepcional com sua Cia. Trapaça.

Estamos sempre trocando bugigangas, idéias e sonhos. E nesse troca-troca vamos tecendo outros tantos absurdos.

Imagem: Wolney Fernandes

Dúvida Cruel

Imprimimos expressões ou exprimimos impressões?

Imagem: Wolney Fernandes
26 de Outubro de 2007

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

1973

O segundo álbum de James Blunt, All the Lost Souls, lançado recentemente, traz em suas dez faixas a mesma marca que o fizeram famoso: o romantismo e a melancolia. Minha música predileta é a balada 1973 que segue um caminho nostálgico de ritmo e questionamento existencialista. Confira no belíssimo clip abaixo:




4 meses e 9 dias depois...

Pois é, o primeiro texto deste blog foi escrito no dia do meu aniversário e só agora, quatro meses e nove dias depois, volto a escrever. Fazia um bom tempo que eu queria voltar a postar com regularidade, mas talvez tenha me faltado a devida habilidade para administrar esse desejo simultaneamente a uma agenda bastante atribulada, que tinha de tudo um pouco: desenhar agenda, escrever artigos, bordar pôster, baixar músicas, assistir Heroes, namorar, pagar condomínio, ler a revista Trip, atualizar o orkut, descansar em Lagolândia, fazer supermercado, jogar Chispa e por aí vai...

Minha cabeça quenãopáranunca já encheu isso aqui de idéias, faltou-me disposição pra sentar e materializá-las. Digo disposição porque o "sr. tempo" anda sempre correndo. Isto é fato e, por enquanto, ainda não descobri uma forma de fazê-lo parar. Mas vou continuar tentando...
Os instantes foram se acumulando e está na hora de torná-los possíveis.

De agora em diante, vai funcionar assim: Este é um novo blog com um formato mais dinâmico que o antigo (santa ironia!) e que pretende “imagizar” e “palavrizar” as idéias que me cercam.
Acho que é isso.
E só isso já é muita coisa!

Foto: Wolney Fernandes
26 de Outubro de 2007

domingo, 17 de junho de 2007

O Mundo é Mágico

O primeiro título que imaginei para este texto foi “Segundo como primeiro”. Mas reconsiderei quando li a tirinha do Calvin e Haroldo reproduzida abaixo.

Este é meu segundo blog. O antigo (retrato 3x4) durou um ano. O título substituído tinha a intenção de ressaltar que mesmo sendo o segundo, este blog traria em suas entrelinhas a mesma expectativa e dinâmica do primeiro. Doce engano – ensinou-me Calvin, com sua filosofia Haroldiana – Se não sou o mesmo de antes, então o segundo não seria como o primeiro. Melhor? Pior? Não sei classificar. Sei que continuo acreditando em promessas de felicidade, rabiscando o cotidiano como instantes possíveis. Talvez tenha a ver com a física quântica, como está na moda dizer. Também não sei. A resposta vai surgir em pensamento, assim, como deve ser. Wolney, idade, blog e livros novos para celebrar a vida que fica melhor a cada dia. Vamos em frente!

PS.: O título eleito, assim como a tirinha, foram retirados do livro maravilhoso de Bill Watterson que a Núbia me deu de presente, fruto de uma odisséia que vale outro post. Mas isso fica pra outra hora. Por enquanto é só pessoal!
17 de Junho de 2007